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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Este Homem Chamado Jesus

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Os Evangelhos




Quase tudo o que sabemos da vida de Jesus vêm de narrativas conhecidas comoevangelhos (palavra de origem grega que significa boa nova). A veracidade desses textos chegou a ser contestada por historiadores tão influentes quanto Ernest Renan (1823-1892) e teólogos tão importantes quanto Rudolf Bultmann (1884-1976).



De fato, vários evangelhos seguem a estrutura de um gênero literário muito apreciado na Antigüidade: os relatos sobre a vida de homens ilustres. Seus autores não tinham a preocupação de documentar rigorosamente os acontecimentos narrados. E misturavam, com muita liberdade, ingredientes históricos, lendários e doutrinários. É esse tempero peculiar que confere às obras seu sabor inconfundível.



As influências


São evidentes nos evangelhos as influências de antigas tradições judaicas, de mitologias pagãs (greco-romana e orientais) e de correntes esotéricas do século 1 d.C.. Mas isso não diminui sua confiabilidade como fontes de informação factual. Ultrapassando as objeções de Renan e Bultmann, os pesquisadores da atualidade tendem a valorizá-los cada vez mais.



Há um grande número de evangelhos. Apenas quatro são aceitos por todas as igrejas cristãs: os chamados canônicos (de acordo com a regra), atribuídos aos redatores Marcos, Mateus, Lucas e João. Os demais foram considerados apócrifos (não-autênticos). Porém, alguns deles vêm despertando grande interesse entre os estudiosos. É o caso do Evangelho de Tomé, redescoberto em Nag Hammadi, no Egito, em 1945.



O evangelho mais antigo, o de Marcos, deve ter sido redigido em sua forma final entre os anos 66 e 68 d.C. (certamente antes de 70 d.C.), data da destruição de Jerusalém pelos romanos, pois não há nele qualquer alusão a esse importante acontecimento. Na década de 80 d.C., apareceram, na forma como os conhecemos hoje, os evangelhos de Mateus e Lucas. Entre 90 e 110 d.C., concluiu-se a redação do evangelho de João. Na mesma época ou pouco depois, foi finalizado o Evangelho de Tomé.



Os evangelhos são narrativas confiáveis?

Um dos argumentos levantados contra a credibilidade dos evangelhos são as datas relativamente tardias de sua composição. Afirma-se que eles foram escritos várias décadas depois dos fatos narrados, quando a memória dos acontecimentos já estava deturpada. Mas esse ponto de vista é rejeitado hoje pelos especialistas. Pois cada evangelho passou por uma longa e complexa elaboração antes de chegar ao texto final. Para se ter uma idéia, o evangelho canônico mais recente, o de João, levou quatro décadas até alcançar sua forma definitiva. Isso já deslocaria a versão original dos anos 90-110 para os anos 50-70. É pouco provável que qualquer um dos evangelhos citados seja obra de um único homem. A análise textual indica que eles correram de mão em mão antes de assumirem o formato que conhecemos hoje.



Tudo começou com o Querigma

Os pesquisadores acreditam que, antes de qualquer registro escrito, se consolidou, muito cedo, uma tradição oral acerca da vida e da mensagem de Jesus. Seu núcleo era o querigma (palavra grega que significa anúncio). O querigma era uma fórmula curta, de forte impacto emocional, utilizada pelos discípulos para converter os ouvintes. Em torno dele, juntaram-se frases e parábolas atribuídas a Jesus e um relato mais detalhado de sua morte e ressurreição. À medida que as testemunhas oculares dos acontecimentos começaram a morrer, as comunidades cristãs sentiram a necessidade de fixar essa tradição por escrito. Os textos primitivos passaram, depois, por sucessivas reelaborações, nas quais o material original recebeu acréscimos, sofreu cortes ou foi adaptado às concepções do grupo a que pertenciam os redatores.


Por que sinóticos?

Em sua forma final, os quatro evangelhos canônicos aparecem redigidos em grego, o idioma falado pelos judeus que viviam fora da Palestina. O texto atribuído a Tomé é a versão em língua copta de um original grego. Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam tantas semelhanças que era costume colocá-los em colunas paralelas, de modo que pudessem ser abarcados com um só olhar. Daí serem chamados de sinóticos. Eles possuem 330 versículos em comum. Acredita-se que sua redação passou por três etapas: a arcaica, a intermediária e a final. Ao longo dessas etapas, os redatores teriam se influenciado uns aos outros. E também utilizado materiais retirados de documentos independentes, jamais localizados.

Essa hipótese, baseada numa análise crítica dos textos finais, recebeu, em 1992, um reforço espetacular. Foi a descoberta, numa das grutas do sítio arqueológico de Qumran, na região do Mar Morto, em Israel, de um fragmento de papiro, datado do ano 50 d.C., onde se pode ler, em caracteres gregos, trechos de dois versículos do evangelho de Marcos. É impossível saber se o fragmento corresponde ao próprio evangelho ou a algum documento perdido, que o redator utilizou como fonte. De qualquer modo, o achado desmente a idéia de uma composição tardia e, portanto, pouco confiável das narrativas evangélicas. Duas décadas depois da morte de Jesus, sua história já estava sendo escrita.



A época em que Jesus viveu

Na época em que Jesus nasceu, os territórios que correspondem hoje a Israel e à Palestina se encontravam sob domínio romano. Antes disso, desde o século 6 a.C., a região fora conquistada sucessivamente por babilônios, persas e gregos. Roma consolidou sua ocupação em 63 a.C.. E, no ano 40 a.C., o estrangeiro Herodes foi proclamado rei da Judéia pelo senado romano. Seu pai, Antípatro, ocupara a função de procurador na administração romana - cargo cuja principal tarefa consistia em supervisionar a cobrança de impostos. Com muita habilidade política e nenhum escrúpulo, um exército de mercenários e as bênçãos de Roma, Herodes impôs seu reinado sobre um território que se estendia da Síria ao Egito. Foi chamado o Grande graças a um fabuloso programa de obras urbanísticas e arquitetônicas.



O governo de Herodes


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Em seu governo, Jerusalém e muitas outras cidades foram reurbanizadas à moda romana: cortadas de ponta a ponta por grandes avenidas (o cardo máximo), subdivididas por ruas formando ângulos retos e embelezadas com palácios, anfiteatros, hipódromos, piscinas e jardins. Acima de todas as obras, destacou-se a suntuosa reconstrução do Templo de Jerusalém, com a qual o rei esperava conquistar a simpatia dos judeus, que o odiavam. O preço desse frenesi de edificações foi a extorsão e a opressão ilimitadas do povo. Constantemente amedrontado pela idéia de perder o poder, Herodes recorreu a todo tipo de crime, inclusive o assassinato de membros de sua própria família. Quando ele enfim morreu, no ano 4 a.C., o reino foi dividido entre seus filhos Arquelau, Filipe e Herodes Antipas, que, sem possuírem o talento do pai, seguiram fielmente seu figurino político.

Jesus nasceu ainda no reinado de Herodes, viveu em territórios governados por seus filhos e morreu sob o poder do romano Pôncio Pilatos, procurador da Judéia entre 26 e 36 d.C.. Foi um período excepcionalmente conturbado na história do povo judeu. A cobrança de impostos, a opressão política e a ingerência estrangeira em assuntos religiosos despertavam exaltada oposição popular e geravam um clima de revolução iminente. Na década de 60 d.C., 30 anos depois da morte de Jesus, o país explodiu em levantes generalizados contra o domínio romano. A repressão a esse movimento insurrecional culminou, em 70 d.C., com a destruição de Jerusalém pelas legiões comandadas por Tito, futuro imperador de Roma.



MAIS SOBRE JESUS EM:


O Nascimento


O Aprendizado


O Libertador


Um Iniciado


Confronto e Condenação


A Morte e os Presságios de Ressurreição


O Verdadeiro Rosto

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O Verdadeiro Rosto de Jesus


Sabe aquela imagem de Jesus, de cabelos alourados e traços bem europeus?

Estudos mais recentes comprovam que esse pode não ser o rosto verdadeiro do Mestre. Acompanhe aqui as tentativas de desvendar a real face de Cristo.



O Cristo Pantocrator

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Os evangelhos canônicos nada dizem sobre a aparência de Jesus. E as primeiras imagens cristãs, produzidas sob influência da arte romana, o mostravam como um jovem imberbe, de cabelos frisados. Tal forma de representação sofreu uma brusca mudança no século VI d.C. Foi quando os religiosos do mosteiro de Santa Catarina, no Egito, produziram um magnífico ícone, que apresenta Jesus de barba, longos cabelos repartidos ao meio, e feições muito próximas do tipo semítico. Esse ícone - o Cristo Pantocrator do Sinai - tornou-se um modelo para a posteridade e ainda impressiona pelo realismo, beleza e majestade. Que fator teria provocado essa mudança na representação de Jesus?




O desafio do Santo Sudário

Utilizando uma sofisticada técnica de superposição de imagens, o pesquisador americano Alan Whanger, da Universidade de Durham, na Carolina do Norte, obteve nada menos do que 170 pontos de congruência entre a face desse ícone e a figura impressa no Santo Sudário - um tecido de linho, que, segundo a tradição, teria sido o lençol mortuário de Jesus.


Resultado de imagem para O verdadeiro rosto de jesusA autenticidade do Santo Sudário é um assunto extremamente polêmico. Nenhum objeto foi tão estudado quanto essa relíquia, guardada na catedral de Turim, Itália. E dezenas de livros e artigos foram escritos a favor ou contra a tradição de que ele tenha envolvido o corpo de Jesus morto.

Uma datação feita em 1988, com base no método do carbono 14, fixou como período de fabricação do tecido os anos compreendidos entre 1260 e 1390. Concluiu-se então, apressadamente, que o lençol seria uma fraude medieval. Porém a qualidade desse teste foi contestada por especialistas com as melhores credenciais científicas. E Harry Grove, principal responsável pela datação, admitiu que a grande contaminação que o pano sofreu ao longo dos séculos pode ter falseado seus resultados.

A questão continua em aberto. Não se trata de desenvolvê-la aqui. Mas vale lembrar a opinião de vários pesquisadores que associam o Sudário ao Mandylion de Edessa, uma relíquia venerada em território bizantino desde o século VI d.C. e desaparecida durante o saque de Constantinopla pelos cruzados, em 1204. Se for verdadeira, a hipótese de que o Mandylion era o Sudário restabelece a conexão entre o lençol de Turim e os primeiros tempos do cristianismo. E fortalece a opinião de que esse pano tenha sido utilizado no sepultamento de Jesus.










Retrato de Jesus

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Nesse caso, o estudo da imagem do Sudário forneceria informações detalhadas de como teria sido a aparência de Jesus: 

Ele teria aproximadamente 79 kg de peso e 1,80 m de altura - pouco mais do que a estatura média dos judeus adultos do século 1, estimada em 1,77 ou 1,78 m; 

Seria um homem musculoso - o que converge com a informação dos evangelhos de que exercia a profissão de carpinteiro e fazia longas viagens a pé; 

Possuiria barba e cabelos longos, trançados abaixo do pescoço - uma moda comum entre os homens judeus de sua época; 

Seus traços faciais seriam característicos do grupo racial semita - o que diverge dos retratos convencionais, inspirados pela arte renascentista européia, que o mostram com olhos azuis e cabelos ruivos.


Morte, os Presságios e a Ressurreição

Conheça aqui os eventos dramáticos da Via Crucis e os acontecimentos

inexplicáveis e extraordinários que ocorreram logo
após a morte de Jesus.



A cruz

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Ela não era alta e imponente como imaginaram os pintores renascentistas e os cineastas americanos. Era baixa, acanhada, quase insignificante em sua crueldade. Fabricada a partir de uma árvore de pequeno porte, a oliveira palestinense, a cruz não excedia a altura de um homem. Para acomodar-se nela, a vítima devia ser pregada com os joelhos dobrados. Havia três categorias de cruzes. A mais simples não ia além da própria árvore, com os galhos aparados. A intermediária utilizava o tronco ainda enraizado da oliveira, ao qual se amarrava com cordas uma barra horizontal, conduzida ao local de execução pelo próprio condenado. A mais sofisticada consistia num poste rústico, feito a partir do tronco e permanentemente fixado no chão; nele, a barra era encaixada por meio de uma fenda. Nos três casos, um pequeno suporte horizontal permitia à vitima sentar-se, impedindo que seus pulsos rompessem devido à ação do peso e prolongando-lhe a agonia.



Os ferimentos

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Apesar de Jesus não ter carregado a cruz inteira, como supôs a piedosa imaginação popular, a barra horizontal era suficientemente pesada para lhe ter provocado grandes hematomas nas costas. Ao menos, é o que se depreende da dramática imagem do Santo Sudário. Ainda mais impressionantes são os sinais de 90 a 120 ferimentos, causados pelo açoite. E 72 perfurações na cabeça, produzidas pela coroa de espinhos. Os pregos, de cerca de 18 centímetros, não lhe foram afixados nos meios das mãos, como se acreditou durante muito tempo. Mas numa parte do pulso conhecida pelos anatomistas como espaço de Destot, entre os ossos rádio e una. Se o traspassamento tivesse ocorrido nas mãos, estas teriam rasgado com o peso do corpo. No espaço de Destot, a introdução dos pregos assegurava uma firme sustentação na cruz. Um terceiro prego, juntando os dois pés, completava a fixação.



Morte por asfixia

Resultado de imagem para Crucificação de Jesus DestotNa cruz, os braços altos dificultavam a respiração do condenado; os líquidos se acumulavam nos pulmões; e a morte sobrevinha por asfixia. Para tomar fôlego durante a longa agonia, as vítimas erguiam-se várias vezes de seus assentos, sustentando-se nos três pregos. Por isso, após várias horas de suplício, suas pernas eram quebradas, de modo a acelerar a morte. A análise do Sudário mostra que esse procedimento de rotina não ocorreu no caso do homem cuja imagem ficou gravada no tecido - o que concorda com a narrativa dos evangelhos, segundo a qual não foi quebrado nenhum dos ossos de Jesus.A estocada de lança, um golpe de misericórdia, perfurou o peito do homem quando ele já se encontrava morto. Um forte jato de hemácias (a parte vermelha do sangue) seguido de um fluxo de plasma (a parte clara) prova que grande quantidade de sangue se acumulara e decantara no pericárdio. E essa informação outra vez converge com o texto bíblico, que fala"num jorro de sangue e água".



Presságios e acontecimentos extraordinários

Era comum os crucificados sobreviverem por até três dias. Talvez devido às terríveis torturas que sofreu na casa de Caifás e entre os soldados romanos, Jesus morreu em apenas seis horas.

Os evangelhos narram diversos acontecimentos, que teriam pontuado essas horas dramáticas. A narrativa mais detalhada, a de Mateus, diz que "desde a hora sexta até a hora nona, isto é, do meio dia as três da tarde, houve treva em toda a terra".

Quando Jesus exalou o último suspiro, o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo, a terra tremeu e as rochas se fenderam. Se as trevas mencionadas pelo evangelista corresponderem a um eclipse, a morte de Jesus deve ter ocorrido no ano 30 d.C., quando se deu um evento dessa natureza. Considerando que Jesus nasceu entre os anos 8 e 6 a.C., ele deve ter vivido então de 36 a 38 anos, e não 33 conforme fixou a antiga tradição cristã.



A ressurreição

Para os discípulos e outros que acreditaram nele, a morte de Jesus deve ter sido um golpe demolidor. Surpresos com a rapidez dos acontecimentos, aturdidos com um desfecho que contrariava suas expectativas, amedrontados com o possível alargamento da repressão, eles certamente sentiram o chão ceder debaixo dos pés. Que perplexidade, que angústia, que desalento! No entanto, toda a sua perspectiva se refez com a notícia da ressurreição. Manipulação? Metáfora? Milagre? Como interpretar esse derradeiro mistério?



O sepulcro vazio

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Segundo o teólogo Leonardo Boff, a análise crítica dos evangelhos sugere que se constituíram inicialmente dois relatos independentes acerca da ressurreição: o do sepulcro vazio, visto pelas mulheres que foram visitá-lo na manhã do terceiro dia após a morte; e o da aparição do mestre ressuscitado aos discípulos.



O Mestre em carne e osso

Mais tarde esses dois retalhos da tradição oral foram costurados na composição dos evangelhos. A narrativa resultante é muito sumária em Marcos e Mateus e bem mais extensa e inspiradora em Lucas e João. O texto dos Atos dos Apóstolos, uma obra também atribuída ao evangelista Lucas, fixa em 40 dias o tempo de permanência de Jesus ressuscitado na Terra. O evangelho gnóstico Pistis Sophia prolonga a estadia para 11 meses e apresenta os ensinamentos esotéricos supostamente comunicados durante esse período. Os canônicos afirmam que os discípulos não reconhe-ceram Jesus num primeiro momento. E o fazem aparecer e desaparecer de cena misteriosamente. Certas correntes do cristianismo primitivo interpretaram esses dados como indícios de que o mestre voltara à Terra num corpo sutil. No entanto, em Lucas, o próprio Jesus insiste na materialidade de seu corpo: "Vede minhas mãos e meus pés: Sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho".



A ressurreição à luz das religiões orientais

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O mistério da ressurreição certamente escapa à capacidade interpretativa da ciência atual. Mas a idéia da transmutação do corpo físico e da conquista da imortalidade não é estranha à antigas tradições espirituais como o shivaísmo indiano e o taoísmo chinês. Embora extrema-mente rara - dizem - essa possibilidade estaria no horizonte de todo ser humano. E teria sido alcançada pelos siddhas (perfeitos): homens e mulheres que, pela devoção integral a Deus, pelo exercício sistemático da auto-observação e pela prática intensiva das diversas disciplinas da yoga, supostamente atingiram um estágio supremo de desenvolvimento, realizando a essência divina em todos os planos da existência. Essa hipótese permite-nos enxergar Jesus por mais um ângulo. E acrescenta uma nova configuração a sua imagem caleidoscópica


Jesus: o Confronto e a Condenação

Uma semana antes de ser executado, Jesus foi recebido como um rei em Jerusalém.
Como foi que o grande mestre aclamado por todos se tornou um condenado?
Percorra os meandros das manobras políticas que
acabaram levando Jesus à morte.



O poder do grande Templo de Jerusalém

Nos tempos antigos, havia vários santuários espalhados pelo país e a prática religiosa estava muito mais próxima da vida cotidiana do povo. Mas, no século 7 a.C., uma reforma violenta, realizada de cima para baixo, modificou profundamente o formato do culto judaico. Ela ocorreu durante o reinado de Josias, que se estendeu de 640 a 609 a.C.


Sob o pretexto de depurar a religião das influências pagãs, herdadas dos povos vizinhos, Josias destruiu os antigos santuários, queimou seus objetos sagrados, massacrou seus sacerdotes e centralizou o culto em Jerusalém.


Por trás de seu furor reformista, havia um inconfessável objetivo político: centralizar o culto e obrigar o povo a acorrer a Jerusalém nas datas estabelecidas era uma forma de unificar o país em torno da casa real de Judá. A centralização do culto fortaleceu a casta sacerdotal e enriqueceu seus integrantes mais ilustres.



A cobrança pelos sacrifícios

Com a desagregação da monarquia, esse alto clero assumiu o controle da vida nacional. As bases econômicas de seu poder eram os sacrifícios diários de animais (bois, carneiros, pombos) e a cobrança de impostos realizados no Templo. Os animais a serem sacrificados passavam por um rigoroso controle de qualidade, baseado nas regras de pureza estabelecidas no livro do Levítico. Essa "peneira fina" barrava os animais trazidos pelos fiéis, que, em seu lugar, deviam comprar outros, vendidos nos pátios do Templo. "Coincidentemente", esses animais aptos eram criados pelas próprias famílias sacerdotais ou por grandes proprietários com elas relacionados.

Os preços flutuavam de acordo com a demanda. E disparavam na época das festas religiosas. Um pombo, o animal mais barato, chegava a custar então cem vezes o seu preço normal, sendo comercializado por um denário (quantia equivalente ao salário pago por um dia de trabalho).

Estudos recentes dão uma idéia da importância econômica dessas transações. Eles informam que, numa única data da vida de Jesus, por ocasião da Páscoa, foram imolados no Templo nada menos do que 250 mil cordeiros!




O comércio religioso

Os altos sacerdotes não lucravam apenas com a venda dos animais. Tiravam proveito também da conversão do dinheiro utilizado no pagamento. Pois as moedas correntes não podiam entrar no Templo. O motivo alegado era que se tratava de dinheiro impuro. Mas a verdadeira causa estava na corrosão de seu valor real devido à inflação. Tanto é que as moedas comuns deviam ser trocadas pela tetradracma tíria, cunhada na cidade de Tiro, na Fenícia, atual Líbano.

Em matéria de pureza ritual, dificilmente poderia ser encontrado algo menos adequado do que esse dinheiro estrangeiro, que trazia, numa das faces, a imagem do deus pagão Melkart, protetor dos tirenses, e, na outra, a águia de Júpiter, principal divindade dos romanos. A diferença é que a tetradracma tíria era uma moeda forte, que não sofreu qualquer desvalorização num período de 300 anos. Pela troca do dinheiro, os cambistas, aliados dos sacerdotes, cobravam um ágio de 8%.

Além dos sacrifícios de animais e do câmbio, a casta sacerdotal locupletava-se ainda com a cobrança do dízimo. Todo judeu do sexo masculino, com mais de 20 anos, era obrigado a pagar. E o Templo possuía o cadastro de cerca de um milhão de contribuintes, dentro e fora da Judéia. Não admira que judeus puritanos, como os essênios, abominassem o sistema econômico-político-religioso estruturado em torno do Templo.

Muitos deles eram ex-sacerdotes, que haviam renunciado à sua proveitosa condição por razões de consciência. Quando Jesus virou as mesas dos cambistas e expulsou os vendedores de animais do Templo, ele se chocou de frente contra essa máquina poderosa. A resposta não se fez esperar. Dias depois, o Sinédrio (o senado de Israel) o condenou à morte.




A condenação

Controlado pelas duas famílias sacerdotais mais poderosas de Israel, as de Anás e Caifás, o Sinédrio - Sanhedrim, em hebraico - era o braço político do sistema de poder estruturado em torno do Templo de Jerusalém. Não por acaso, esse órgão se reunia nas dependências do Templo, na Sala da Pedra Talhada. A ele cabiam todas as decisões de natureza legal ou ritual. E sua autoridade se estendia às populações judaicas que viviam fora da Palestina. Era composto por 70 membros, escolhidos entre os homens mais ilustres da comunidade (saduceus, doutores da lei, fariseus) e presidido pelo sumo sacerdote em exercício. Foi essa instituição, de certo modo semelhante ao senado romano, que condenou Jesus.





A ameaça Jesus

O Sinédrio não se respaldava numa longa tradição. Pois sua existência remontava apenas ao século 2 a.C. e encerrou-se em 66 d.C.. Também não desfrutava de sólida legitimidade política aos olhos da população, devido a sua política de colaboração com os romanos. Por isso, seus chefes se sentiram altamente ameaçados com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Eram suficientemente ardilosos, porém, para tirar vantagem do desapontamento popular causado pela recusa de Jesus em assumir o papel de líder messiânico. Traído pelo zelota Judas quando se encontrava em oração no monte das Oliveiras e preso pelos soldados do sumo sacerdote Caifás, o mestre foi levado a uma masmorra existente na casa deste último e cruelmente espancado.



Por que Pôncio Pilatos lavou as mãos?

Segundo o relato de Mateus, o Sinédrio condenou Jesus à morte sob a acusação de blasfêmia. A instituição não tinha, porém, autoridade para executar o condenado, pois algumas de suas antigas atribuições haviam sido cassadas por Roma. Por isso, Caifás encaminhou Jesus a Pôncio Pilatos. Para a mentalidade pragmática de um procurador romano, a acusação, de caráter religioso, não fazia o menor sentido. Daí a hesitação de Pilatos em ratificar a sentença. Mas, no final, ele acabou cedendo.


Numa época de aguda fermentação política, os romanos crucificavam aos milhares. Somente na repressão ao levante nacionalista do ano 4 d.C., dois mil judeus foram crucificados. Ao seu olhar insensível, Jesus era apenas mais um. Por que se indispor com o Sinédrio por causa dele?

Jesus: o libertador

O povo de Israel esperava um guerreiro que os libertasse dos seus opressores.

Jesus pregava o amor irrestrito e o Reino de Deus na Terra. Saiba mais
sobre o choque inevitável entre duas visões tão diferentes.


Jesus foi identificado como o Messias por seus seguidores. Esse título - Cristo, em grego - designava o indivíduo escolhido por Deus para desempenhar uma missão especial junto ao povo. A palavra vem do hebraico Mashiah, que significa Ungido. E era originalmente utilizada para designar o sumo sacerdote, sobre cuja cabeça se derramava o óleo santo, como consagração de sua liderança espiritual e política. A unção foi estendida depois aos reis de Israel.



Esperando um guerreiro invencível

No tempo de Jesus, a expectativa em relação à volta do Messias tornou-se extraordinariamente intensa. Era a resposta do imaginário popular frente a um contexto de aguda opressão econômica, social e política e profunda crise dos valores tradicionais. Como enviado de Deus, o Messias deveria liderar uma revolução capaz de enxotar os dominadores romanos e derrubar a corrupta dinastia herodiana, restaurando uma realeza legítima em Israel.

Isso era o que o povo esperava de Jesus. Na condição de Messias, ele foi recebido em triunfo em Jerusalém, no início de sua última semana de vida. Mas a rápida evolução dos acontecimentos frustrou essa expectativa guerreira, nacionalista e monárquica. E a frustração popular foi habilmente explorada pelos inimigos de Jesus (especialmente os saduceus), que o condenaram à morte.



Por que o povo abandonou Jesus?

No famoso livro Jesus Cristo Libertador, o teólogo brasileiro Leonardo Boff analisa essa contradição entre a atuação do mestre e as ilusões messiânicas de seu tempo. A prática de Jesus, diz Boff, contesta as estruturas da sociedade e da religião da época. Ele não se apresenta como um reformista ascético à maneira dos essênios, nem como observante da tradição como os fariseus, mas como um libertador profético. No entanto, prossegue o teólogo, Jesus não se organizou para a tomada do poder político. Pois sempre considerou o poder político como tentação diabólica, porque implicava uma regionalização do Reino, que é universal.



A revolução de Cristo

A revolução messiânica que muitos aguardavam tinha um caráter imediatista e limitado. Bastava libertar o país da dominação estrangeira, restabelecer a legitimidade política e tudo estaria resolvido. A revolução proposta por Jesus era um processo de longo prazo, incomparavelmente mais amplo e profundo. Ela deveria ocorrer no interior das consciências, exteriorizando-se como transformação radical de toda a existência. Sua meta: realizar o Reino de Deus na Terra. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância", afirma Jesus, no evangelho de João.

Jesus foi um iniciado?

Muitos estudiosos levantam pistas sobre um período da vida de Jesus no qual ele
teria se dedicado ao estudo das religiões esotéricas da época, incluindo a Cabala,
a mística judaica. Mergulhe nesse fascinante universo de indagações.



Alguns evangelhos apócrifos (Tomé, Felipe, Pistis Sophia e outros) atribuem a Jesus ensinamentos esotéricos que se aproximam muito do gnosticismo (corrente mística que teve sua maior expressão no século 2 d.C.). A autenticidade das supostas palavras do mestre é duvidosa no Pistis Sophia (Fé e Sabedoria) - um documento tardio, do século 2 ou 3, que apresenta uma doutrina gnóstica extremamente rebuscada. Mas parece bastante plausível em Tomé. Certos especialistas chegam mesmo a afirmar que muitas de suas sentenças são mais confiáveis do que as correspondentes nos evangélicos canônicos. A imagem de Jesus que resulta desses textos é bem mais complexa do que a convencional.

Teria ele transmitido dois corpos complementares de ensinamentos: um, exotérico, adaptado à capacidade de compreensão do grande público; outro, esotérico, destinado a um círculo mais íntimo de discípulos?

Numerosas correntes espirituais, dentro e fora do cristianismo, acreditam que sim. Para umas, ele foi um grande mestre da Cabala, a tradição mística judaica. Para outras, o portador de um conhecimento oculto que vem sendo comunicado à humanidade desde tempos imemoriais - conhecimento cujas origens remontam aos mais antigos iogues indianos e, antes deles, aos xamãs pré-históricos. As duas hipóteses não são contraditórias. E mais algumas poderiam ser acrescentadas.

Nesse terreno movediço das suposições, é muito arriscado fazer qualquer afirmação taxativa. Mas, apenas como subsídio à reflexão, é interessante rever, à luz dessas hipóteses, algumas passagens da história de Jesus:



O batismo

Após um período de aproximadamente 20 anos, do qual nada se sabe, ele iniciou sua atuação pública. Essa nova fase da vida foi precedida por um rito iniciático adotado por várias tradições místicas. Trata-se do batismo. A prática era utilizada pelos essênios. Mas não apenas por eles. Comunidades esotéricas de diferentes épocas, regiões e ambientes culturais recorreram e ainda recorrem ao mesmo ritual. Nele, o aspirante vivencia, de maneira simbólica, um processo de morte e renascimento. Ao ser submerso na água, "morre" para sua antiga existência. Emergindo dela, renasce para uma vida nova.



A prova de fogo do deserto

Depois do batismo, Jesus viveu ainda uma outra experiência iniciática, jejuando durante 40 dias no deserto da Judéia. Provas desse tipo são tão antigas quanto o xamanismo e continuam a ser utilizadas por várias tradições místicas. Sua função é submeter o aspirante a uma condição de isolamento e privação, na qual ele seja levado a confrontar o lado sombrio de si mesmo. Nos evangelhos - especialmente em Mateus - esse domínio obscuro da psique assume a forma do Diabo, que assedia Jesus com três tentações: quebrar o jejum, transformando em pães as pedras do deserto; atirar-se do alto do Templo de Jerusalém, para que os anjos o amparassem; adorar o próprio Diabo, em troca do reinado sobre a Terra. Essas três tentações poderiam ser analisadas à exaustão. Mas basta dizer que elas tinham todas o mesmo objetivo: desviar Jesus de sua missão, levando-o a direcionar seus poderes para metas egoístas. Ele as rejeitou, de maneira soberana.



O círculo hermético

Iniciada a missão, suas ações e palavras passaram a atrair um número cada vez maior de pessoas. Os evangelhos distinguem três tipos de público: a grande massa, à qual ele se dirigia nas sinagogas e outros espaços coletivos; um contingente amplo de discípulos, com os quais se mantinha em freqüente contato; e o grupo mais restrito dos "doze", cujos integrantes tiveram que abandonar seus compromissos profissionais e familiares para segui-lo.

A narrativa de João informa que pelo menos dois dos "doze" haviam sido antes discípulos de João Batista, e deixaram seu mestre para aderir a Jesus. A constituição e estrutura desse círculo talvez fossem bem menos informais do que se supõe, obedecendo a um modelo há muito estabelecido nas comunidades místicas.

Um exemplo típico de ensinamento destinado à multidão é o Sermão da Montanha, ambientado numa colina próxima à cidade de Cafarnaum. Sentenças mais densas, encontradas no evangelho de Tomé, mas também aqui e ali nos canônicos, poderiam conter parte das lições esotéricas transmitidas aos discípulos.



O texto oculto na tabuleta fixada na cruz

Depois de o mestre ter sido julgado e condenado à morte, o procurador romano Pôncio Pilatos escreveu pessoalmente numa tabuleta a frase "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus". Essa inscrição, redigida em hebraico, grego e latim, foi afixada à cruz. E costuma ser interpretada como um resumo da acusação imputada a Jesus. Porém, à luz das especulações de que estamos tratando, pode ter um significado bem diferente do convencional. Nazareno parece ser o designativo de habitante da cidade de Nazaré, onde ele teria vivido parte de sua existência. Mas poderia se referir também ao status de nazir ou nazireu, indivíduo inteiramente consagrado a Deus, que, entre outras obrigações rituais, devia se abster de cortar os cabelos.

Sansão, um personagem semi-lendário do Antigo Testamento, era nazir e teria perdido temporariamente os poderes sobrenaturais quando seus cabelos foram cortados. Também na Índia, muitos iogues, devotos de Shiva, não cortam os cabelos e a barba, porque acreditam que os pêlos funcionam como antenas, conectando o corpo físico do homem aos seus corpos sutis. Haveria alguma ligação entre a mística judaica e o shivaísmo indiano? Vários indícios apontam nesse sentido. Mas o desenvolvimento do tema é extenso demais para ser exposto aqui.

Outra palavra da inscrição de Pilatos que costuma ser reinterpretada pelas escolas místicas é o termo rei. Ele não se referiria a um cargo político. Mas ao título que, nos círculos esotéricos, era dado ao indivíduo que iniciava os demais adeptos no conhecimento dos mistérios. O filósofo neoplatônico Porfírio (233-305) foi chamado de Malchos, que significa reiem idioma siríaco. E, com essa conotação de mestre iniciático, a palavra foi amplamente utilizada pelos sufis, integrantes de uma tradição mística que teve sua maior expressão no mundo muçulmano.



Os partidos e as seitas que existiam na Galiléia na época de Jesus

Jesus era um judeu, dirigindo-se a interlocutores judeus. E, como tal, contracenou com os diversos grupos político-religiosos que se movimentavam em Israel no seu tempo. Em vários momentos de sua atuação pública, ele divergiu desses partidos e seitas, e criticou duramente seus adeptos. Suas palavras não eram nada suaves nessas ocasiões: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão". Quem eram esses indivíduos que despertavam a indignação do mestre? A que segmentos sociais estavam ligados? Quais suas principais idéias em matéria de política e religião?



Saduceus

Integrantes de um partido constituído por grandes proprietários de terras (anciãos) e membros da elite sacerdotal. O famoso historiador judeu Flávio Josefo (35 d.C. - 111 d.C.) escreveu que os saduceus representavam o poder, a nobreza e a riqueza. Conciliadores em relação ao domínio romano, eles controlavam o Sinédrio (o senado de Israel) e o Templo de Jerusalém. Negavam a imortalidade da alma, rejeitavam o Talmud (conjunto de opiniões e comentários dos antigos rabinos) e aceitavam apenas o que estava escrito na Torá (as Sagradas Escrituras judaicas, constituídas pelos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), cuja redação era atribuída a Moisés. Mais do que qualquer outro grupo, foram os saduceus os principais responsáveis pela condenação de Jesus (leia o artigo "A morte, os presságios e a ressurreição").



Doutores da Lei (Escribas)

Indivíduos que não estavam ligados a um segmento social específico, nem constituíam uma seita ou partido, na acepção estrita das palavras, porém desfrutavam de enorme autoridade, como intérpretes abalizados das Sagradas Escrituras. Homens de grande erudição, eram consultados em assuntos polêmicos e influenciavam as decisões do Sinédrio, onde estavam representados - por isso, tiveram também sua parte na condenação de Jesus. Ao contrário dos saduceus, cuja atividade religiosa se exercia somente no Templo de Jerusalém, os doutores atuavam também nas sinagogas e escolas rabínicas. Reverenciavam mais do que ninguém a Torá, mas não se prendiam a uma leitura literal do texto sagrado, reconhecendo nele toda uma dimensão esotérica. Muitos doutores pertenciam ao grupo dos fariseus.



Fariseus

Integrantes de um movimento com ramificações em todas as camadas sociais, principalmente nas classes dos artesãos e pequenos comerciantes. Muito religiosos e extremamente formalistas, os fariseus se separavam do resto da comunidade judaica pelo cumprimento ultraminucioso de todas as regras de pureza prescritas na Torá, em especial no livro do Levítico. Daí seu nome, fariseus, que deriva da palavra hebraica perishut (separação). Eram ativos nas sinagogas e, em várias ocasiões, foram admoestados por Jesus, que os criticava por se apegarem aos detalhes epidérmicos da Torá, enquanto negligenciavam seu conteúdo profundo. Dirigindo-se a eles e aos doutores, o mestre os chamou de "condutores cegos, que coais o mosquito e tragais o camelo!" Apesar disso, a doutrina farisaica exerceu forte influência sobre o futuro pensamento cristão, legando-lhe, principalmente, a crença na imortalidade da alma e na ressurreição do corpo. Em política, os fariseus eram nacionalistas, e aguardavam a vinda do Messias, que deveria libertar Israel da dominação romana.




Zelotas

Dissidentes radicais da seita dos fariseus, pretendiam expulsar pelas armas os dominadores pagãos, e cometiam atentados terroristas contra os representantes do Império. Por isso, eram cruelmente perseguidos pelo poder romano. A base social do partido dos Zelotas era formada pelo pequeno campesinato e outros segmentos pobres da sociedade. Sua doutrina era um misto de religiosidade extremada e ultranacionalismo político. Entre os 12 discípulos mais íntimos de Jesus, havia pelo menos dois zelotas: Simão, o Zelota (não confundir com o outro Simão, que o mestre denominou Pedro), e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. O termo Iscariotes, acrescentado ao nome de Judas, tanto pode significar que ele fosse originário da cidade de Kariot, foco da rebelião zelota, como derivar da expressão aramaica ish kariot(aquele que porta um punhal), alusão ao fato de os membros dessa seita andarem armados.

Os zelotas parecem ter depositado grandes esperanças na liderança política de Jesus. Porém a amplitude, a profundidade e o longo alcance da mensagem do mestre se chocaram com o caráter restrito, superficial e imediatista do projeto revolucionário zelota. Isso talvez explique a traição de Judas.


Essênios

Puritanos que viviam em comunidades ultrafechadas, como a que se desenvolveu na região de Qumran, às margens do Mar Morto. Muitos essênios eram sacerdotes dissidentes do clero de Jerusalém. Para eles, nem mesmo os fariseus e os zelotas eram suficientemente rigorosos no cumprimento da Lei judaica. Sua confraria - acreditavam - era o único remanescente puro de Israel. Opunham-se à propriedade privada e ao comércio, valorizavam o trabalho na lavoura e levavam uma vida comunal extremamente austera. Praticavam o celibato ou se casavam somente para perpetuar a espécie. Combatiam intransigentemente tanto os romanos quanto o poder concentrado no Templo de Jerusalém, opondo-se ao sacrifício de animais. E aguardavam a vinda do Messias, que deveria liderar uma guerra santa para eliminar os pecadores e instaurar o reino dos justos.

Os essênios cultivavam uma doutrina mística de tipo gnóstico. Seus aspirantes deviam passar por um período de iniciação, que durava três anos e culminava no ritual do batismo. Pesquisas arqueológicas recentes levaram à descoberta de que havia em Jerusalém um bairro essênio, contíguo ao bairro cristão. Certamente ocorreu uma troca de influências entre as duas comunidades. Mas a especulação de que Jesus tenha pertencido a essa seita é totalmente rechaçada pelos estudiosos contemporâneos. Um essênio jamais se sentaria à mesa de um cobrador de impostos ou perdoaria uma mulher adúltera, como fez Jesus. Apegados aos preceitos de pureza e ao seu próprio orgulho, os essênios se afastavam de um mundo supostamente corrompido para não se contaminarem. Jesus, ao contrário, transgredia deliberadamente essas mesmas regras. E mergulhava no mundo para transformá-lo.


Jesus: os anos de aprendizado

A infância e a juventude de Jesus não devem ter sido muito diferentes da
de qualquer menino judeu da Galiléia naquela época. Aqui você
mergulha na infância do Menino Jesus.




As primeiras letras

No tempo de Jesus, o analfabetismo era muito raro entre os judeus do sexo masculino. Pois, ao completar 13 anos, os meninos deviam comparecer à sinagoga e ler uma passagem daTorá (as Sagradas Escrituras judaicas, constituídas pelos cinco primeiros livros da Bíblia:Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Era o Bar-Mitzvá, um rito de passagem no qual o jovem se tornava responsável por todos os seus atos. Por força dessa tradição, todos os garotos recebiam uma instrução elementar, que compreendia a leitura, a escrita, a história do povo judeu e o conhecimento dos principais salmos da Bíblia, adotados como orações.

Jesus teve certamente acesso a essa educação básica. E a famosa passagem de Lucas, na qual o menino Jesus debate com os doutores do Templo, é interpretada por alguns especialistas como sendo sua cerimônia de Bar-Mitzvá.



Teria sua instrução se interrompido nesse estágio?

Durante muito tempo, acreditou-se que a pobreza da família impedira seu acesso à educação superior. Tal suposição parecia concordar com certas passagens dos evangelhos - como um trecho de João no qual os ouvintes se admiram com seus ensinamentos, dizendo: "Como pode ser ele versado nas Escrituras, sem as ter estudado. Mas a opinião dos pesquisadores começou a mudar nos últimos anos".

Um estudo mais profundo das narrativas evangélicas e principalmente uma nova compreensão da sociedade judaica da época, parece indicar que nem sua família era tão pobre nem sua instrução parou no nível elementar. Na verdade, os especialistas se inclinam cada vez mais a encará-lo como um rabino, altamente versado na cultura tradicional de seu povo. Rabino, aliás, é o título pelo qual seus interlocutores o tratam em inúmeras passagens dos evangelhos.



Jesus seria um rabino?

Uma das formas de se obter essa educação superior era participar dos círculos de discípulos de rabinos ilustres. Paulo - que inicialmente perseguiu os seguidores de Jesus e depois se tornou o principal teórico e propagandista do cristianismo - recebeu esse tipo de instrução junto ao rabino Gamaliel, um dos maiores mestres da época. Teria Jesus vivido uma experiência parecida? É possível. Porém os evangelhos não fornecem nenhuma informação a respeito. Marcos e João começam seu relato com Jesus prestes a iniciar sua missão, aos 30 ou, mais provavelmente, 33 anos de idade. Mateus e Lucas traçam um brevíssimo retrato da infância e, daí, pulam para a idade adulta. Alguns apócrifos apresentam outras cenas infantis, mas são narrativas tardias e tão fantasiosas que não despertam confiança. O resultado de tudo isso é uma lacuna de cerca de 20 anos na "biografia" do Homem.

Essa omissão de dados deu margem a todo tipo de especulação. Alguns autores associaram Jesus à comunidade dos essênios - conjectura totalmente descartada pelas pesquisas mais recentes. Outros o fizeram viajar à Índia, em busca de conhecimentos esotéricos. Não há nenhuma prova a favor ou contra essa hipótese. De qualquer modo, apesar de fascinante, ela é desnecessária, pois a sabedoria oculta estava disponível na Palestina. O Antigo Testamento menciona explicitamente a existência de confrarias místicas no tempo dos profetas Elias e Eliseu. Elas certamente continuavam a existir, e até com maior expressão, no século 1 d.C., quando o judaísmo se encontrava dividido num sem número de partidos e seitas.

A eventual participação do jovem Jesus num desses círculos iniciáticos é assunto polêmico. Mas poderia explicar as peculiaridades de alguns de seus ensinamentos, certas passagens obscuras de sua vida, e até mesmo a maneira como estruturou seu próprio grupo de discípulos.



O jovem trabalhador

A tradição cristã diz que José, o esposo de Maria, exercia a profissão de carpinteiro. O evangelho de Marcos vai além. E afirma que o próprio Jesus seguia esse ofício: "Não é este o carpinteiro, o filho de Maria (...)?", perguntam seus ouvintes, admirados com a profundidade dos ensinamentos que acabara de proferir na sinagoga.

Esse dado é muito verossímil, pois, na época, as profissões passavam de pai para filho. Mas a tradução não faz inteira justiça ao texto grego do evangelista. Pois a palavra tékton, utilizada por Marcos, possui um significado mais amplo, e se aplica tanto à função de carpinteiro quanto às de pedreiro e serralheiro.

O mais provável, portanto, é que Jesus fosse um trabalhador autônomo, capaz de exercer essas diferentes habilidades profissionais, de acordo com a demanda dos clientes. Tal interpretação converge com o que escreveu o autor cristão Justino de Roma, no ano 150 d.C.. Esse escritor, que nasceu na Galiléia, a região onde Jesus viveu, afirma que ele fazia cangas para bois e arados.



A língua do Mestre

O idioma usado por Jesus no dia-a-dia era o aramaico. Pois, em sua época, o povo já não falava mais o hebraico. Considerado uma língua sagrada, o hebraico era empregado apenas na composição de obras eruditas e nos ritos religiosos.



A língua do povo

Na comunicação cotidiana, desde a época do exílio na Babilônia (586 a.C.- 538 a.C.), só se utilizava o aramaico. Trata-se de um idioma do grupo semítico, originário da Alta Mesopotâmia, falado ainda hoje em círculos restritos. É tão semelhante ao hebraico quanto o espanhol ao português. E, a partir dos últimos reinados assírios e persas, no século 6 a.C., tornou-se uma língua internacional, empregada principalmente no comércio.

Nas sinagogas, as leituras dos textos eram feitas em hebraico. Mas, para que as pessoas comuns pudessem compreendê-las, um servente as traduzia ao aramaico. Como rabino, Jesus estava perfeitamente familiarizado com o idioma sagrado. Isso fica bem claro numa passagem do evangelho de Lucas, na qual ele lê na sinagoga um trecho do livro do profeta Isaías, e depois o comenta para os ouvintes. Segundo os estudiosos, a leitura foi feita em hebraico e o comentário em aramaico.



As línguas estrangeiras

A terceira língua falada na região era o grego, o inglês da época, disseminado por todo o Oriente Médio com as conquistas de Alexandre, o Grande, no século 4 a.C.. O grego era utilizado, principalmente, pelas comunidades judaicas que viviam fora da Palestina. Mas é bem provável que Jesus o conhecesse. Quanto ao latim, o idioma do Império, seu uso se restringia aos quadros da administração romana.

O Nascimento



Você sabia que Jesus nasceu antes do que costumamos chamar de era cristã?
Descubra aqui por que os historiadores ainda discutem detalhes dessa
história que marcou o início do cristianismo.


A data

O nascimento de Jesus é o episódio que supostamente assinala o início da era cristã. Mas, devido a um erro de cálculo, cometido no século 6 d.C. pelo monge Dionísio, o Pequeno, as duas datas não coincidem. Sabe-se hoje que Jesus nasceu antes do ano 1 - entre 8 e 6 a.C. Pode-se afirmar isso com razoável segurança, graças a uma passagem muito precisa do evangelho de Lucas. Segundo o evangelista, o fato aconteceu na época do recenseamento ordenado pelo imperador romano César Augusto. Esse censo, o primeiro realizado na Palestina, tinha por objetivo regularizar a cobrança de impostos. E os historiadores estão de acordo em situá-lo no período que vai de 8 e 6 a.C.

Nesse triênio, o ano mais provável é 7 a.C. Pois nele se deu um evento astronômico que poderia explicar uma outra passagem da narrativa evangélica: a estrela natalina mencionada por Mateus. Trata-se da conjunção dos planetas Júpiter e Saturno, que produziu no céu um ponto de brilho excepcional. Se o astro de Mateus for mais do que um enfeite mitológico, ele deve corresponder a tal fenômeno, que certamente impressionou os astrônomos da época. Esses sábios, atraídos a Jerusalém pelo movimento aparente do ponto luminoso, seriam os magos do Oriente, de que fala o evangelista. Com o recenseamento de Lucas e a estrela citada por Mateus, conseguimos chegar o mais perto possível do ano do nascimento. O mês e o dia continuam, porém, em aberto.



Festival Pagão X Festa de Natal

O 25 de dezembro é obviamente uma data simbólica. Nesse dia, ocorria em Roma o festival pagão do Solis Invictus (Sol Invencível). Realizado logo depois do solstício de inverno - quando o percurso aparente do Sol ocupa sua posição mais baixa no céu - o evento celebrava o triunfo do astro, que voltava a ascender no firmamento. Muito cedo, os cristãos associaram as virtudes solares a Jesus, atribuindo-lhe várias qualidades do deus Apolo. Não surpreende que acabassem por transformar o festival pagão na sua festa de Natal. Isso aconteceu por volta do ano 330 d.C.


A ascendência do Messias

Mateus, seguido por Lucas, afirma que Jesus nasceu em Belém - hoje em território palestino. Essa afirmação chegou a ser contestada por alguns estudiosos contemporâneos. Pois Belém era a cidade de Davi e, segundo a tradição, o Messias esperado deveria surgir entre a descendência desse antigo rei de Israel.

Situar o nascimento em Belém - dizem os contestadores - era uma forma de legitimar Jesus na condição de Messias. Embora interessante, esse raciocínio crítico não se apóia em nenhuma prova convincente. Lucas, ao contrário, oferece um bom argumento a favor de Belém: José, o esposo de Maria, futura mãe de Jesus, pertencia a uma família originária daquela cidade e a regra do recenseamento exigia que cada indivíduo se alistasse em sua localidade de origem. Por isso, a maioria dos especialistas aceita Belém sem reservas.




O lugar onde Jesus nasceu

De passagem por essa cidade, José e Maria procuraram onde se alojar. Mas, segundo Lucas, "não havia um lugar para eles na sala". A palavra sala (katalyma, em grego) tanto pode designar uma pousada como a casa de algum parente de José. Estando o local cheio, devido ao grande número de pessoas vindas de outras regiões para o recenseamento, o casal teve que se acomodar do lado de fora, talvez sob um alpendre, junto à manjedoura dos animais. Foi aí que Maria deu à luz.

O nascimento de Jesus nesse local humilde, rejeitado pelas "pessoas de bem", possui um profundo significado teológico. Ele repete a saga de grandes personagens mitológicos, como o deus indiano Skanda-Murugan (correspondente ao Dioniso dos gregos), que nasceu entre os caniços do pântano. E anuncia a trajetória futura daquele que seria a mais perfeita expressão da figura arquetípica do Servo de Deus. 

Este Homem Chamado Jesus



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Os Evangelhos



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Quase tudo o que sabemos da vida de Jesus vêm de narrativas conhecidas comoevangelhos (palavra de origem grega que significa boa nova). A veracidade desses textos chegou a ser contestada por historiadores tão influentes quanto Ernest Renan (1823-1892) e teólogos tão importantes quanto Rudolf Bultmann (1884-1976).


De fato, vários evangelhos seguem a estrutura de um gênero literário muito apreciado na Antigüidade: os relatos sobre a vida de homens ilustres. Seus autores não tinham a preocupação de documentar rigorosamente os acontecimentos narrados. E misturavam, com muita liberdade, ingredientes históricos, lendários e doutrinários. É esse tempero peculiar que confere às obras seu sabor inconfundível.





As influências


São evidentes nos evangelhos as influências de antigas tradições judaicas, de mitologias pagãs (greco-romana e orientais) e de correntes esotéricas do século 1 d.C.. Mas isso não diminui sua confiabilidade como fontes de informação factual. Ultrapassando as objeções de Renan e Bultmann, os pesquisadores da atualidade tendem a valorizá-los cada vez mais.



Há um grande número de evangelhos. Apenas quatro são aceitos por todas as igrejas cristãs: os chamados canônicos (de acordo com a regra), atribuídos aos redatores Marcos, Mateus, Lucas e João. Os demais foram considerados apócrifos (não-autênticos). Porém, alguns deles vêm despertando grande interesse entre os estudiosos. É o caso do Evangelho de Tomé, redescoberto em Nag Hammadi, no Egito, em 1945.



O evangelho mais antigo, o de Marcos, deve ter sido redigido em sua forma final entre os anos 66 e 68 d.C. (certamente antes de 70 d.C.), data da destruição de Jerusalém pelos romanos, pois não há nele qualquer alusão a esse importante acontecimento. Na década de 80 d.C., apareceram, na forma como os conhecemos hoje, os evangelhos de Mateus e Lucas. Entre 90 e 110 d.C., concluiu-se a redação do evangelho de João. Na mesma época ou pouco depois, foi finalizado o Evangelho de Tomé.


Os evangelhos são narrativas confiáveis?

Um dos argumentos levantados contra a credibilidade dos evangelhos são as datas relativamente tardias de sua composição. Afirma-se que eles foram escritos várias décadas depois dos fatos narrados, quando a memória dos acontecimentos já estava deturpada. Mas esse ponto de vista é rejeitado hoje pelos especialistas. Pois cada evangelho passou por uma longa e complexa elaboração antes de chegar ao texto final. Para se ter uma idéia, o evangelho canônico mais recente, o de João, levou quatro décadas até alcançar sua forma definitiva. Isso já deslocaria a versão original dos anos 90-110 para os anos 50-70. É pouco provável que qualquer um dos evangelhos citados seja obra de um único homem. A análise textual indica que eles correram de mão em mão antes de assumirem o formato que conhecemos hoje.



Tudo começou com o Querigma

Os pesquisadores acreditam que, antes de qualquer registro escrito, se consolidou, muito cedo, uma tradição oral acerca da vida e da mensagem de Jesus. Seu núcleo era o querigma (palavra grega que significa anúncio). O querigma era uma fórmula curta, de forte impacto emocional, utilizada pelos discípulos para converter os ouvintes. Em torno dele, juntaram-se frases e parábolas atribuídas a Jesus e um relato mais detalhado de sua morte e ressurreição. À medida que as testemunhas oculares dos acontecimentos começaram a morrer, as comunidades cristãs sentiram a necessidade de fixar essa tradição por escrito. Os textos primitivos passaram, depois, por sucessivas reelaborações, nas quais o material original recebeu acréscimos, sofreu cortes ou foi adaptado às concepções do grupo a que pertenciam os redatores.


Por que sinóticos?

Em sua forma final, os quatro evangelhos canônicos aparecem redigidos em grego, o idioma falado pelos judeus que viviam fora da Palestina. O texto atribuído a Tomé é a versão em língua copta de um original grego. Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam tantas semelhanças que era costume colocá-los em colunas paralelas, de modo que pudessem ser abarcados com um só olhar. Daí serem chamados de sinóticos. Eles possuem 330 versículos em comum. Acredita-se que sua redação passou por três etapas: a arcaica, a intermediária e a final. Ao longo dessas etapas, os redatores teriam se influenciado uns aos outros. E também utilizado materiais retirados de documentos independentes, jamais localizados.

Essa hipótese, baseada numa análise crítica dos textos finais, recebeu, em 1992, um reforço espetacular. Foi a descoberta, numa das grutas do sítio arqueológico de Qumran, na região do Mar Morto, em Israel, de um fragmento de papiro, datado do ano 50 d.C., onde se pode ler, em caracteres gregos, trechos de dois versículos do evangelho de Marcos. É impossível saber se o fragmento corresponde ao próprio evangelho ou a algum documento perdido, que o redator utilizou como fonte. De qualquer modo, o achado desmente a idéia de uma composição tardia e, portanto, pouco confiável das narrativas evangélicas. Duas décadas depois da morte de Jesus, sua história já estava sendo escrita.



A época em que Jesus viveu

Na época em que Jesus nasceu, os territórios que correspondem hoje a Israel e à Palestina se encontravam sob domínio romano. Antes disso, desde o século 6 a.C., a região fora conquistada sucessivamente por babilônios, persas e gregos. Roma consolidou sua ocupação em 63 a.C.. E, no ano 40 a.C., o estrangeiro Herodes foi proclamado rei da Judéia pelo senado romano. Seu pai, Antípatro, ocupara a função de procurador na administração romana - cargo cuja principal tarefa consistia em supervisionar a cobrança de impostos. Com muita habilidade política e nenhum escrúpulo, um exército de mercenários e as bênçãos de Roma, Herodes impôs seu reinado sobre um território que se estendia da Síria ao Egito. Foi chamado o Grande graças a um fabuloso programa de obras urbanísticas e arquitetônicas.


O governo de Herodes

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Em seu governo, Jerusalém e muitas outras cidades foram reurbanizadas à moda romana: cortadas de ponta a ponta por grandes avenidas (o cardo máximo), subdivididas por ruas formando ângulos retos e embelezadas com palácios, anfiteatros, hipódromos, piscinas e jardins. Acima de todas as obras, destacou-se a suntuosa reconstrução do Templo de Jerusalém, com a qual o rei esperava conquistar a simpatia dos judeus, que o odiavam. O preço desse frenesi de edificações foi a extorsão e a opressão ilimitadas do povo. Constantemente amedrontado pela idéia de perder o poder, Herodes recorreu a todo tipo de crime, inclusive o assassinato de membros de sua própria família. Quando ele enfim morreu, no ano 4 a.C., o reino foi dividido entre seus filhos Arquelau, Filipe e Herodes Antipas, que, sem possuírem o talento do pai, seguiram fielmente seu figurino político.

Jesus nasceu ainda no reinado de Herodes, viveu em territórios governados por seus filhos e morreu sob o poder do romano Pôncio Pilatos, procurador da Judéia entre 26 e 36 d.C.. Foi um período excepcionalmente conturbado na história do povo judeu. A cobrança de impostos, a opressão política e a ingerência estrangeira em assuntos religiosos despertavam exaltada oposição popular e geravam um clima de revolução iminente. Na década de 60 d.C., 30 anos depois da morte de Jesus, o país explodiu em levantes generalizados contra o domínio romano. A repressão a esse movimento insurrecional culminou, em 70 d.C., com a destruição de Jerusalém pelas legiões comandadas por Tito, futuro imperador de Roma.



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O Nascimento

O Aprendizado

O Libertador

Um Iniciado

Confronto e Condenação

A Morte e os Presságios de Ressurreição

O Verdadeiro Rosto