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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Jesus: o libertador

O povo de Israel esperava um guerreiro que os libertasse dos seus opressores.

Jesus pregava o amor irrestrito e o Reino de Deus na Terra. Saiba mais
sobre o choque inevitável entre duas visões tão diferentes.


Jesus foi identificado como o Messias por seus seguidores. Esse título - Cristo, em grego - designava o indivíduo escolhido por Deus para desempenhar uma missão especial junto ao povo. A palavra vem do hebraico Mashiah, que significa Ungido. E era originalmente utilizada para designar o sumo sacerdote, sobre cuja cabeça se derramava o óleo santo, como consagração de sua liderança espiritual e política. A unção foi estendida depois aos reis de Israel.



Esperando um guerreiro invencível

No tempo de Jesus, a expectativa em relação à volta do Messias tornou-se extraordinariamente intensa. Era a resposta do imaginário popular frente a um contexto de aguda opressão econômica, social e política e profunda crise dos valores tradicionais. Como enviado de Deus, o Messias deveria liderar uma revolução capaz de enxotar os dominadores romanos e derrubar a corrupta dinastia herodiana, restaurando uma realeza legítima em Israel.

Isso era o que o povo esperava de Jesus. Na condição de Messias, ele foi recebido em triunfo em Jerusalém, no início de sua última semana de vida. Mas a rápida evolução dos acontecimentos frustrou essa expectativa guerreira, nacionalista e monárquica. E a frustração popular foi habilmente explorada pelos inimigos de Jesus (especialmente os saduceus), que o condenaram à morte.



Por que o povo abandonou Jesus?

No famoso livro Jesus Cristo Libertador, o teólogo brasileiro Leonardo Boff analisa essa contradição entre a atuação do mestre e as ilusões messiânicas de seu tempo. A prática de Jesus, diz Boff, contesta as estruturas da sociedade e da religião da época. Ele não se apresenta como um reformista ascético à maneira dos essênios, nem como observante da tradição como os fariseus, mas como um libertador profético. No entanto, prossegue o teólogo, Jesus não se organizou para a tomada do poder político. Pois sempre considerou o poder político como tentação diabólica, porque implicava uma regionalização do Reino, que é universal.



A revolução de Cristo

A revolução messiânica que muitos aguardavam tinha um caráter imediatista e limitado. Bastava libertar o país da dominação estrangeira, restabelecer a legitimidade política e tudo estaria resolvido. A revolução proposta por Jesus era um processo de longo prazo, incomparavelmente mais amplo e profundo. Ela deveria ocorrer no interior das consciências, exteriorizando-se como transformação radical de toda a existência. Sua meta: realizar o Reino de Deus na Terra. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância", afirma Jesus, no evangelho de João.

Jesus foi um iniciado?

Muitos estudiosos levantam pistas sobre um período da vida de Jesus no qual ele
teria se dedicado ao estudo das religiões esotéricas da época, incluindo a Cabala,
a mística judaica. Mergulhe nesse fascinante universo de indagações.



Alguns evangelhos apócrifos (Tomé, Felipe, Pistis Sophia e outros) atribuem a Jesus ensinamentos esotéricos que se aproximam muito do gnosticismo (corrente mística que teve sua maior expressão no século 2 d.C.). A autenticidade das supostas palavras do mestre é duvidosa no Pistis Sophia (Fé e Sabedoria) - um documento tardio, do século 2 ou 3, que apresenta uma doutrina gnóstica extremamente rebuscada. Mas parece bastante plausível em Tomé. Certos especialistas chegam mesmo a afirmar que muitas de suas sentenças são mais confiáveis do que as correspondentes nos evangélicos canônicos. A imagem de Jesus que resulta desses textos é bem mais complexa do que a convencional.

Teria ele transmitido dois corpos complementares de ensinamentos: um, exotérico, adaptado à capacidade de compreensão do grande público; outro, esotérico, destinado a um círculo mais íntimo de discípulos?

Numerosas correntes espirituais, dentro e fora do cristianismo, acreditam que sim. Para umas, ele foi um grande mestre da Cabala, a tradição mística judaica. Para outras, o portador de um conhecimento oculto que vem sendo comunicado à humanidade desde tempos imemoriais - conhecimento cujas origens remontam aos mais antigos iogues indianos e, antes deles, aos xamãs pré-históricos. As duas hipóteses não são contraditórias. E mais algumas poderiam ser acrescentadas.

Nesse terreno movediço das suposições, é muito arriscado fazer qualquer afirmação taxativa. Mas, apenas como subsídio à reflexão, é interessante rever, à luz dessas hipóteses, algumas passagens da história de Jesus:



O batismo

Após um período de aproximadamente 20 anos, do qual nada se sabe, ele iniciou sua atuação pública. Essa nova fase da vida foi precedida por um rito iniciático adotado por várias tradições místicas. Trata-se do batismo. A prática era utilizada pelos essênios. Mas não apenas por eles. Comunidades esotéricas de diferentes épocas, regiões e ambientes culturais recorreram e ainda recorrem ao mesmo ritual. Nele, o aspirante vivencia, de maneira simbólica, um processo de morte e renascimento. Ao ser submerso na água, "morre" para sua antiga existência. Emergindo dela, renasce para uma vida nova.



A prova de fogo do deserto

Depois do batismo, Jesus viveu ainda uma outra experiência iniciática, jejuando durante 40 dias no deserto da Judéia. Provas desse tipo são tão antigas quanto o xamanismo e continuam a ser utilizadas por várias tradições místicas. Sua função é submeter o aspirante a uma condição de isolamento e privação, na qual ele seja levado a confrontar o lado sombrio de si mesmo. Nos evangelhos - especialmente em Mateus - esse domínio obscuro da psique assume a forma do Diabo, que assedia Jesus com três tentações: quebrar o jejum, transformando em pães as pedras do deserto; atirar-se do alto do Templo de Jerusalém, para que os anjos o amparassem; adorar o próprio Diabo, em troca do reinado sobre a Terra. Essas três tentações poderiam ser analisadas à exaustão. Mas basta dizer que elas tinham todas o mesmo objetivo: desviar Jesus de sua missão, levando-o a direcionar seus poderes para metas egoístas. Ele as rejeitou, de maneira soberana.



O círculo hermético

Iniciada a missão, suas ações e palavras passaram a atrair um número cada vez maior de pessoas. Os evangelhos distinguem três tipos de público: a grande massa, à qual ele se dirigia nas sinagogas e outros espaços coletivos; um contingente amplo de discípulos, com os quais se mantinha em freqüente contato; e o grupo mais restrito dos "doze", cujos integrantes tiveram que abandonar seus compromissos profissionais e familiares para segui-lo.

A narrativa de João informa que pelo menos dois dos "doze" haviam sido antes discípulos de João Batista, e deixaram seu mestre para aderir a Jesus. A constituição e estrutura desse círculo talvez fossem bem menos informais do que se supõe, obedecendo a um modelo há muito estabelecido nas comunidades místicas.

Um exemplo típico de ensinamento destinado à multidão é o Sermão da Montanha, ambientado numa colina próxima à cidade de Cafarnaum. Sentenças mais densas, encontradas no evangelho de Tomé, mas também aqui e ali nos canônicos, poderiam conter parte das lições esotéricas transmitidas aos discípulos.



O texto oculto na tabuleta fixada na cruz

Depois de o mestre ter sido julgado e condenado à morte, o procurador romano Pôncio Pilatos escreveu pessoalmente numa tabuleta a frase "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus". Essa inscrição, redigida em hebraico, grego e latim, foi afixada à cruz. E costuma ser interpretada como um resumo da acusação imputada a Jesus. Porém, à luz das especulações de que estamos tratando, pode ter um significado bem diferente do convencional. Nazareno parece ser o designativo de habitante da cidade de Nazaré, onde ele teria vivido parte de sua existência. Mas poderia se referir também ao status de nazir ou nazireu, indivíduo inteiramente consagrado a Deus, que, entre outras obrigações rituais, devia se abster de cortar os cabelos.

Sansão, um personagem semi-lendário do Antigo Testamento, era nazir e teria perdido temporariamente os poderes sobrenaturais quando seus cabelos foram cortados. Também na Índia, muitos iogues, devotos de Shiva, não cortam os cabelos e a barba, porque acreditam que os pêlos funcionam como antenas, conectando o corpo físico do homem aos seus corpos sutis. Haveria alguma ligação entre a mística judaica e o shivaísmo indiano? Vários indícios apontam nesse sentido. Mas o desenvolvimento do tema é extenso demais para ser exposto aqui.

Outra palavra da inscrição de Pilatos que costuma ser reinterpretada pelas escolas místicas é o termo rei. Ele não se referiria a um cargo político. Mas ao título que, nos círculos esotéricos, era dado ao indivíduo que iniciava os demais adeptos no conhecimento dos mistérios. O filósofo neoplatônico Porfírio (233-305) foi chamado de Malchos, que significa reiem idioma siríaco. E, com essa conotação de mestre iniciático, a palavra foi amplamente utilizada pelos sufis, integrantes de uma tradição mística que teve sua maior expressão no mundo muçulmano.



Os partidos e as seitas que existiam na Galiléia na época de Jesus

Jesus era um judeu, dirigindo-se a interlocutores judeus. E, como tal, contracenou com os diversos grupos político-religiosos que se movimentavam em Israel no seu tempo. Em vários momentos de sua atuação pública, ele divergiu desses partidos e seitas, e criticou duramente seus adeptos. Suas palavras não eram nada suaves nessas ocasiões: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão". Quem eram esses indivíduos que despertavam a indignação do mestre? A que segmentos sociais estavam ligados? Quais suas principais idéias em matéria de política e religião?



Saduceus

Integrantes de um partido constituído por grandes proprietários de terras (anciãos) e membros da elite sacerdotal. O famoso historiador judeu Flávio Josefo (35 d.C. - 111 d.C.) escreveu que os saduceus representavam o poder, a nobreza e a riqueza. Conciliadores em relação ao domínio romano, eles controlavam o Sinédrio (o senado de Israel) e o Templo de Jerusalém. Negavam a imortalidade da alma, rejeitavam o Talmud (conjunto de opiniões e comentários dos antigos rabinos) e aceitavam apenas o que estava escrito na Torá (as Sagradas Escrituras judaicas, constituídas pelos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), cuja redação era atribuída a Moisés. Mais do que qualquer outro grupo, foram os saduceus os principais responsáveis pela condenação de Jesus (leia o artigo "A morte, os presságios e a ressurreição").



Doutores da Lei (Escribas)

Indivíduos que não estavam ligados a um segmento social específico, nem constituíam uma seita ou partido, na acepção estrita das palavras, porém desfrutavam de enorme autoridade, como intérpretes abalizados das Sagradas Escrituras. Homens de grande erudição, eram consultados em assuntos polêmicos e influenciavam as decisões do Sinédrio, onde estavam representados - por isso, tiveram também sua parte na condenação de Jesus. Ao contrário dos saduceus, cuja atividade religiosa se exercia somente no Templo de Jerusalém, os doutores atuavam também nas sinagogas e escolas rabínicas. Reverenciavam mais do que ninguém a Torá, mas não se prendiam a uma leitura literal do texto sagrado, reconhecendo nele toda uma dimensão esotérica. Muitos doutores pertenciam ao grupo dos fariseus.



Fariseus

Integrantes de um movimento com ramificações em todas as camadas sociais, principalmente nas classes dos artesãos e pequenos comerciantes. Muito religiosos e extremamente formalistas, os fariseus se separavam do resto da comunidade judaica pelo cumprimento ultraminucioso de todas as regras de pureza prescritas na Torá, em especial no livro do Levítico. Daí seu nome, fariseus, que deriva da palavra hebraica perishut (separação). Eram ativos nas sinagogas e, em várias ocasiões, foram admoestados por Jesus, que os criticava por se apegarem aos detalhes epidérmicos da Torá, enquanto negligenciavam seu conteúdo profundo. Dirigindo-se a eles e aos doutores, o mestre os chamou de "condutores cegos, que coais o mosquito e tragais o camelo!" Apesar disso, a doutrina farisaica exerceu forte influência sobre o futuro pensamento cristão, legando-lhe, principalmente, a crença na imortalidade da alma e na ressurreição do corpo. Em política, os fariseus eram nacionalistas, e aguardavam a vinda do Messias, que deveria libertar Israel da dominação romana.




Zelotas

Dissidentes radicais da seita dos fariseus, pretendiam expulsar pelas armas os dominadores pagãos, e cometiam atentados terroristas contra os representantes do Império. Por isso, eram cruelmente perseguidos pelo poder romano. A base social do partido dos Zelotas era formada pelo pequeno campesinato e outros segmentos pobres da sociedade. Sua doutrina era um misto de religiosidade extremada e ultranacionalismo político. Entre os 12 discípulos mais íntimos de Jesus, havia pelo menos dois zelotas: Simão, o Zelota (não confundir com o outro Simão, que o mestre denominou Pedro), e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. O termo Iscariotes, acrescentado ao nome de Judas, tanto pode significar que ele fosse originário da cidade de Kariot, foco da rebelião zelota, como derivar da expressão aramaica ish kariot(aquele que porta um punhal), alusão ao fato de os membros dessa seita andarem armados.

Os zelotas parecem ter depositado grandes esperanças na liderança política de Jesus. Porém a amplitude, a profundidade e o longo alcance da mensagem do mestre se chocaram com o caráter restrito, superficial e imediatista do projeto revolucionário zelota. Isso talvez explique a traição de Judas.


Essênios

Puritanos que viviam em comunidades ultrafechadas, como a que se desenvolveu na região de Qumran, às margens do Mar Morto. Muitos essênios eram sacerdotes dissidentes do clero de Jerusalém. Para eles, nem mesmo os fariseus e os zelotas eram suficientemente rigorosos no cumprimento da Lei judaica. Sua confraria - acreditavam - era o único remanescente puro de Israel. Opunham-se à propriedade privada e ao comércio, valorizavam o trabalho na lavoura e levavam uma vida comunal extremamente austera. Praticavam o celibato ou se casavam somente para perpetuar a espécie. Combatiam intransigentemente tanto os romanos quanto o poder concentrado no Templo de Jerusalém, opondo-se ao sacrifício de animais. E aguardavam a vinda do Messias, que deveria liderar uma guerra santa para eliminar os pecadores e instaurar o reino dos justos.

Os essênios cultivavam uma doutrina mística de tipo gnóstico. Seus aspirantes deviam passar por um período de iniciação, que durava três anos e culminava no ritual do batismo. Pesquisas arqueológicas recentes levaram à descoberta de que havia em Jerusalém um bairro essênio, contíguo ao bairro cristão. Certamente ocorreu uma troca de influências entre as duas comunidades. Mas a especulação de que Jesus tenha pertencido a essa seita é totalmente rechaçada pelos estudiosos contemporâneos. Um essênio jamais se sentaria à mesa de um cobrador de impostos ou perdoaria uma mulher adúltera, como fez Jesus. Apegados aos preceitos de pureza e ao seu próprio orgulho, os essênios se afastavam de um mundo supostamente corrompido para não se contaminarem. Jesus, ao contrário, transgredia deliberadamente essas mesmas regras. E mergulhava no mundo para transformá-lo.


Jesus: os anos de aprendizado

A infância e a juventude de Jesus não devem ter sido muito diferentes da
de qualquer menino judeu da Galiléia naquela época. Aqui você
mergulha na infância do Menino Jesus.




As primeiras letras

No tempo de Jesus, o analfabetismo era muito raro entre os judeus do sexo masculino. Pois, ao completar 13 anos, os meninos deviam comparecer à sinagoga e ler uma passagem daTorá (as Sagradas Escrituras judaicas, constituídas pelos cinco primeiros livros da Bíblia:Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Era o Bar-Mitzvá, um rito de passagem no qual o jovem se tornava responsável por todos os seus atos. Por força dessa tradição, todos os garotos recebiam uma instrução elementar, que compreendia a leitura, a escrita, a história do povo judeu e o conhecimento dos principais salmos da Bíblia, adotados como orações.

Jesus teve certamente acesso a essa educação básica. E a famosa passagem de Lucas, na qual o menino Jesus debate com os doutores do Templo, é interpretada por alguns especialistas como sendo sua cerimônia de Bar-Mitzvá.



Teria sua instrução se interrompido nesse estágio?

Durante muito tempo, acreditou-se que a pobreza da família impedira seu acesso à educação superior. Tal suposição parecia concordar com certas passagens dos evangelhos - como um trecho de João no qual os ouvintes se admiram com seus ensinamentos, dizendo: "Como pode ser ele versado nas Escrituras, sem as ter estudado. Mas a opinião dos pesquisadores começou a mudar nos últimos anos".

Um estudo mais profundo das narrativas evangélicas e principalmente uma nova compreensão da sociedade judaica da época, parece indicar que nem sua família era tão pobre nem sua instrução parou no nível elementar. Na verdade, os especialistas se inclinam cada vez mais a encará-lo como um rabino, altamente versado na cultura tradicional de seu povo. Rabino, aliás, é o título pelo qual seus interlocutores o tratam em inúmeras passagens dos evangelhos.



Jesus seria um rabino?

Uma das formas de se obter essa educação superior era participar dos círculos de discípulos de rabinos ilustres. Paulo - que inicialmente perseguiu os seguidores de Jesus e depois se tornou o principal teórico e propagandista do cristianismo - recebeu esse tipo de instrução junto ao rabino Gamaliel, um dos maiores mestres da época. Teria Jesus vivido uma experiência parecida? É possível. Porém os evangelhos não fornecem nenhuma informação a respeito. Marcos e João começam seu relato com Jesus prestes a iniciar sua missão, aos 30 ou, mais provavelmente, 33 anos de idade. Mateus e Lucas traçam um brevíssimo retrato da infância e, daí, pulam para a idade adulta. Alguns apócrifos apresentam outras cenas infantis, mas são narrativas tardias e tão fantasiosas que não despertam confiança. O resultado de tudo isso é uma lacuna de cerca de 20 anos na "biografia" do Homem.

Essa omissão de dados deu margem a todo tipo de especulação. Alguns autores associaram Jesus à comunidade dos essênios - conjectura totalmente descartada pelas pesquisas mais recentes. Outros o fizeram viajar à Índia, em busca de conhecimentos esotéricos. Não há nenhuma prova a favor ou contra essa hipótese. De qualquer modo, apesar de fascinante, ela é desnecessária, pois a sabedoria oculta estava disponível na Palestina. O Antigo Testamento menciona explicitamente a existência de confrarias místicas no tempo dos profetas Elias e Eliseu. Elas certamente continuavam a existir, e até com maior expressão, no século 1 d.C., quando o judaísmo se encontrava dividido num sem número de partidos e seitas.

A eventual participação do jovem Jesus num desses círculos iniciáticos é assunto polêmico. Mas poderia explicar as peculiaridades de alguns de seus ensinamentos, certas passagens obscuras de sua vida, e até mesmo a maneira como estruturou seu próprio grupo de discípulos.



O jovem trabalhador

A tradição cristã diz que José, o esposo de Maria, exercia a profissão de carpinteiro. O evangelho de Marcos vai além. E afirma que o próprio Jesus seguia esse ofício: "Não é este o carpinteiro, o filho de Maria (...)?", perguntam seus ouvintes, admirados com a profundidade dos ensinamentos que acabara de proferir na sinagoga.

Esse dado é muito verossímil, pois, na época, as profissões passavam de pai para filho. Mas a tradução não faz inteira justiça ao texto grego do evangelista. Pois a palavra tékton, utilizada por Marcos, possui um significado mais amplo, e se aplica tanto à função de carpinteiro quanto às de pedreiro e serralheiro.

O mais provável, portanto, é que Jesus fosse um trabalhador autônomo, capaz de exercer essas diferentes habilidades profissionais, de acordo com a demanda dos clientes. Tal interpretação converge com o que escreveu o autor cristão Justino de Roma, no ano 150 d.C.. Esse escritor, que nasceu na Galiléia, a região onde Jesus viveu, afirma que ele fazia cangas para bois e arados.



A língua do Mestre

O idioma usado por Jesus no dia-a-dia era o aramaico. Pois, em sua época, o povo já não falava mais o hebraico. Considerado uma língua sagrada, o hebraico era empregado apenas na composição de obras eruditas e nos ritos religiosos.



A língua do povo

Na comunicação cotidiana, desde a época do exílio na Babilônia (586 a.C.- 538 a.C.), só se utilizava o aramaico. Trata-se de um idioma do grupo semítico, originário da Alta Mesopotâmia, falado ainda hoje em círculos restritos. É tão semelhante ao hebraico quanto o espanhol ao português. E, a partir dos últimos reinados assírios e persas, no século 6 a.C., tornou-se uma língua internacional, empregada principalmente no comércio.

Nas sinagogas, as leituras dos textos eram feitas em hebraico. Mas, para que as pessoas comuns pudessem compreendê-las, um servente as traduzia ao aramaico. Como rabino, Jesus estava perfeitamente familiarizado com o idioma sagrado. Isso fica bem claro numa passagem do evangelho de Lucas, na qual ele lê na sinagoga um trecho do livro do profeta Isaías, e depois o comenta para os ouvintes. Segundo os estudiosos, a leitura foi feita em hebraico e o comentário em aramaico.



As línguas estrangeiras

A terceira língua falada na região era o grego, o inglês da época, disseminado por todo o Oriente Médio com as conquistas de Alexandre, o Grande, no século 4 a.C.. O grego era utilizado, principalmente, pelas comunidades judaicas que viviam fora da Palestina. Mas é bem provável que Jesus o conhecesse. Quanto ao latim, o idioma do Império, seu uso se restringia aos quadros da administração romana.

O Nascimento



Você sabia que Jesus nasceu antes do que costumamos chamar de era cristã?
Descubra aqui por que os historiadores ainda discutem detalhes dessa
história que marcou o início do cristianismo.


A data

O nascimento de Jesus é o episódio que supostamente assinala o início da era cristã. Mas, devido a um erro de cálculo, cometido no século 6 d.C. pelo monge Dionísio, o Pequeno, as duas datas não coincidem. Sabe-se hoje que Jesus nasceu antes do ano 1 - entre 8 e 6 a.C. Pode-se afirmar isso com razoável segurança, graças a uma passagem muito precisa do evangelho de Lucas. Segundo o evangelista, o fato aconteceu na época do recenseamento ordenado pelo imperador romano César Augusto. Esse censo, o primeiro realizado na Palestina, tinha por objetivo regularizar a cobrança de impostos. E os historiadores estão de acordo em situá-lo no período que vai de 8 e 6 a.C.

Nesse triênio, o ano mais provável é 7 a.C. Pois nele se deu um evento astronômico que poderia explicar uma outra passagem da narrativa evangélica: a estrela natalina mencionada por Mateus. Trata-se da conjunção dos planetas Júpiter e Saturno, que produziu no céu um ponto de brilho excepcional. Se o astro de Mateus for mais do que um enfeite mitológico, ele deve corresponder a tal fenômeno, que certamente impressionou os astrônomos da época. Esses sábios, atraídos a Jerusalém pelo movimento aparente do ponto luminoso, seriam os magos do Oriente, de que fala o evangelista. Com o recenseamento de Lucas e a estrela citada por Mateus, conseguimos chegar o mais perto possível do ano do nascimento. O mês e o dia continuam, porém, em aberto.



Festival Pagão X Festa de Natal

O 25 de dezembro é obviamente uma data simbólica. Nesse dia, ocorria em Roma o festival pagão do Solis Invictus (Sol Invencível). Realizado logo depois do solstício de inverno - quando o percurso aparente do Sol ocupa sua posição mais baixa no céu - o evento celebrava o triunfo do astro, que voltava a ascender no firmamento. Muito cedo, os cristãos associaram as virtudes solares a Jesus, atribuindo-lhe várias qualidades do deus Apolo. Não surpreende que acabassem por transformar o festival pagão na sua festa de Natal. Isso aconteceu por volta do ano 330 d.C.


A ascendência do Messias

Mateus, seguido por Lucas, afirma que Jesus nasceu em Belém - hoje em território palestino. Essa afirmação chegou a ser contestada por alguns estudiosos contemporâneos. Pois Belém era a cidade de Davi e, segundo a tradição, o Messias esperado deveria surgir entre a descendência desse antigo rei de Israel.

Situar o nascimento em Belém - dizem os contestadores - era uma forma de legitimar Jesus na condição de Messias. Embora interessante, esse raciocínio crítico não se apóia em nenhuma prova convincente. Lucas, ao contrário, oferece um bom argumento a favor de Belém: José, o esposo de Maria, futura mãe de Jesus, pertencia a uma família originária daquela cidade e a regra do recenseamento exigia que cada indivíduo se alistasse em sua localidade de origem. Por isso, a maioria dos especialistas aceita Belém sem reservas.




O lugar onde Jesus nasceu

De passagem por essa cidade, José e Maria procuraram onde se alojar. Mas, segundo Lucas, "não havia um lugar para eles na sala". A palavra sala (katalyma, em grego) tanto pode designar uma pousada como a casa de algum parente de José. Estando o local cheio, devido ao grande número de pessoas vindas de outras regiões para o recenseamento, o casal teve que se acomodar do lado de fora, talvez sob um alpendre, junto à manjedoura dos animais. Foi aí que Maria deu à luz.

O nascimento de Jesus nesse local humilde, rejeitado pelas "pessoas de bem", possui um profundo significado teológico. Ele repete a saga de grandes personagens mitológicos, como o deus indiano Skanda-Murugan (correspondente ao Dioniso dos gregos), que nasceu entre os caniços do pântano. E anuncia a trajetória futura daquele que seria a mais perfeita expressão da figura arquetípica do Servo de Deus. 

Este Homem Chamado Jesus



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Os Evangelhos



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Quase tudo o que sabemos da vida de Jesus vêm de narrativas conhecidas comoevangelhos (palavra de origem grega que significa boa nova). A veracidade desses textos chegou a ser contestada por historiadores tão influentes quanto Ernest Renan (1823-1892) e teólogos tão importantes quanto Rudolf Bultmann (1884-1976).


De fato, vários evangelhos seguem a estrutura de um gênero literário muito apreciado na Antigüidade: os relatos sobre a vida de homens ilustres. Seus autores não tinham a preocupação de documentar rigorosamente os acontecimentos narrados. E misturavam, com muita liberdade, ingredientes históricos, lendários e doutrinários. É esse tempero peculiar que confere às obras seu sabor inconfundível.





As influências


São evidentes nos evangelhos as influências de antigas tradições judaicas, de mitologias pagãs (greco-romana e orientais) e de correntes esotéricas do século 1 d.C.. Mas isso não diminui sua confiabilidade como fontes de informação factual. Ultrapassando as objeções de Renan e Bultmann, os pesquisadores da atualidade tendem a valorizá-los cada vez mais.



Há um grande número de evangelhos. Apenas quatro são aceitos por todas as igrejas cristãs: os chamados canônicos (de acordo com a regra), atribuídos aos redatores Marcos, Mateus, Lucas e João. Os demais foram considerados apócrifos (não-autênticos). Porém, alguns deles vêm despertando grande interesse entre os estudiosos. É o caso do Evangelho de Tomé, redescoberto em Nag Hammadi, no Egito, em 1945.



O evangelho mais antigo, o de Marcos, deve ter sido redigido em sua forma final entre os anos 66 e 68 d.C. (certamente antes de 70 d.C.), data da destruição de Jerusalém pelos romanos, pois não há nele qualquer alusão a esse importante acontecimento. Na década de 80 d.C., apareceram, na forma como os conhecemos hoje, os evangelhos de Mateus e Lucas. Entre 90 e 110 d.C., concluiu-se a redação do evangelho de João. Na mesma época ou pouco depois, foi finalizado o Evangelho de Tomé.


Os evangelhos são narrativas confiáveis?

Um dos argumentos levantados contra a credibilidade dos evangelhos são as datas relativamente tardias de sua composição. Afirma-se que eles foram escritos várias décadas depois dos fatos narrados, quando a memória dos acontecimentos já estava deturpada. Mas esse ponto de vista é rejeitado hoje pelos especialistas. Pois cada evangelho passou por uma longa e complexa elaboração antes de chegar ao texto final. Para se ter uma idéia, o evangelho canônico mais recente, o de João, levou quatro décadas até alcançar sua forma definitiva. Isso já deslocaria a versão original dos anos 90-110 para os anos 50-70. É pouco provável que qualquer um dos evangelhos citados seja obra de um único homem. A análise textual indica que eles correram de mão em mão antes de assumirem o formato que conhecemos hoje.



Tudo começou com o Querigma

Os pesquisadores acreditam que, antes de qualquer registro escrito, se consolidou, muito cedo, uma tradição oral acerca da vida e da mensagem de Jesus. Seu núcleo era o querigma (palavra grega que significa anúncio). O querigma era uma fórmula curta, de forte impacto emocional, utilizada pelos discípulos para converter os ouvintes. Em torno dele, juntaram-se frases e parábolas atribuídas a Jesus e um relato mais detalhado de sua morte e ressurreição. À medida que as testemunhas oculares dos acontecimentos começaram a morrer, as comunidades cristãs sentiram a necessidade de fixar essa tradição por escrito. Os textos primitivos passaram, depois, por sucessivas reelaborações, nas quais o material original recebeu acréscimos, sofreu cortes ou foi adaptado às concepções do grupo a que pertenciam os redatores.


Por que sinóticos?

Em sua forma final, os quatro evangelhos canônicos aparecem redigidos em grego, o idioma falado pelos judeus que viviam fora da Palestina. O texto atribuído a Tomé é a versão em língua copta de um original grego. Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam tantas semelhanças que era costume colocá-los em colunas paralelas, de modo que pudessem ser abarcados com um só olhar. Daí serem chamados de sinóticos. Eles possuem 330 versículos em comum. Acredita-se que sua redação passou por três etapas: a arcaica, a intermediária e a final. Ao longo dessas etapas, os redatores teriam se influenciado uns aos outros. E também utilizado materiais retirados de documentos independentes, jamais localizados.

Essa hipótese, baseada numa análise crítica dos textos finais, recebeu, em 1992, um reforço espetacular. Foi a descoberta, numa das grutas do sítio arqueológico de Qumran, na região do Mar Morto, em Israel, de um fragmento de papiro, datado do ano 50 d.C., onde se pode ler, em caracteres gregos, trechos de dois versículos do evangelho de Marcos. É impossível saber se o fragmento corresponde ao próprio evangelho ou a algum documento perdido, que o redator utilizou como fonte. De qualquer modo, o achado desmente a idéia de uma composição tardia e, portanto, pouco confiável das narrativas evangélicas. Duas décadas depois da morte de Jesus, sua história já estava sendo escrita.



A época em que Jesus viveu

Na época em que Jesus nasceu, os territórios que correspondem hoje a Israel e à Palestina se encontravam sob domínio romano. Antes disso, desde o século 6 a.C., a região fora conquistada sucessivamente por babilônios, persas e gregos. Roma consolidou sua ocupação em 63 a.C.. E, no ano 40 a.C., o estrangeiro Herodes foi proclamado rei da Judéia pelo senado romano. Seu pai, Antípatro, ocupara a função de procurador na administração romana - cargo cuja principal tarefa consistia em supervisionar a cobrança de impostos. Com muita habilidade política e nenhum escrúpulo, um exército de mercenários e as bênçãos de Roma, Herodes impôs seu reinado sobre um território que se estendia da Síria ao Egito. Foi chamado o Grande graças a um fabuloso programa de obras urbanísticas e arquitetônicas.


O governo de Herodes

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Em seu governo, Jerusalém e muitas outras cidades foram reurbanizadas à moda romana: cortadas de ponta a ponta por grandes avenidas (o cardo máximo), subdivididas por ruas formando ângulos retos e embelezadas com palácios, anfiteatros, hipódromos, piscinas e jardins. Acima de todas as obras, destacou-se a suntuosa reconstrução do Templo de Jerusalém, com a qual o rei esperava conquistar a simpatia dos judeus, que o odiavam. O preço desse frenesi de edificações foi a extorsão e a opressão ilimitadas do povo. Constantemente amedrontado pela idéia de perder o poder, Herodes recorreu a todo tipo de crime, inclusive o assassinato de membros de sua própria família. Quando ele enfim morreu, no ano 4 a.C., o reino foi dividido entre seus filhos Arquelau, Filipe e Herodes Antipas, que, sem possuírem o talento do pai, seguiram fielmente seu figurino político.

Jesus nasceu ainda no reinado de Herodes, viveu em territórios governados por seus filhos e morreu sob o poder do romano Pôncio Pilatos, procurador da Judéia entre 26 e 36 d.C.. Foi um período excepcionalmente conturbado na história do povo judeu. A cobrança de impostos, a opressão política e a ingerência estrangeira em assuntos religiosos despertavam exaltada oposição popular e geravam um clima de revolução iminente. Na década de 60 d.C., 30 anos depois da morte de Jesus, o país explodiu em levantes generalizados contra o domínio romano. A repressão a esse movimento insurrecional culminou, em 70 d.C., com a destruição de Jerusalém pelas legiões comandadas por Tito, futuro imperador de Roma.



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O Aprendizado

O Libertador

Um Iniciado

Confronto e Condenação

A Morte e os Presságios de Ressurreição

O Verdadeiro Rosto

Alquimia








O significado da Alquimia pode assumir diversas conotações de acordo com o contexto em que é aplicada e da forma como é interpretada. A alquimia pode ser considerada uma modalidade de ciência, talvez a mais antiga da história da humanidade, que originou diversas outras, inclusive a química contemporânea. Porém, não é possível classificá-la apenas como uma ciência. Isto porque, na alquimia, inclui-se diversos elementos místicos, filosóficos e metafóricos; além de uma linguagem simbólica e interpretativa. Assim, podemos classificá-la genericamente como uma antiga tradição que combina química, física, arte e ocultismo.



Por esse motivo, a alquimia também é classificada como uma ciência ou arte hermética. Neste caso,hermético é uma alusão direta ao lendário Hermes Tris- megistus e significa de difícil acesso e compreensão, reservado apenas para os Iniciados nas artes ocultas.


Esta camada de incertezas relaciona-se também quando se discute a origem da palavra. Alquimia pode ser originada no vocábulo árabe kimia, que por sua vez, deriva-se da palavra egípcia keme, que significa terra negra e era uma das formas usadas para referir-se ao Egito, país onde provavelmente surgiu a alquimia. Ainda, pode-se considerar que a palavra tenha surgido da expressão árabe al khen que tem raiz grega na palavraelkimya e significa o país negro. Também cogita-se uma origem direta no grego, na palavra chyma que se relaciona à fundição de metais.


Os preceitos da alquimia se encontram condensados na misteriosa Tábua Esmeralda. A esmeralda era considerada a pedra preciosa mais bela e com uma simbologia maior.


Uma das características principais dos tratados alquímicos é a linguagem complexa e rebuscada na qual são redigidos. Durante a Idade Média, isto poderia ser um recurso usado pelos alquimistas para que não fossem alvo da perseguição da Santa Inquisição. Porém, também é possível que os autores tentassem ocultar as fórmulas, de modo que apenas outros alquimistas compreendessem.





Símbolos e objetivos


Na linguagem alquímica encontra-se associação de símbolos astrológicos com metais. O Sol, por exemplo, é associado ao ouro; a Lua representa a prata; Marte associa-se ao ferro enquanto Saturno ao chumbo. Animais (mesmo mitológicos como o dragão) e suas características também são usados para definir os elementos e as substâncias e os processos ao qual são submetidos. O unicórnio ou o veado é usado para representar o elemento terra; o peixe representa a água; pássaros fazem referência ao ar e salamandras aludem ao fogo. Ainda, o sal é normalmente representado por um leão verde. A fase de putrefação do processo alquímico é representada por um corvo.



Esta simbologia alquímica é encontrada até mesmo mesclada com ícones do cristianismo medieval. Por exemplo, nas seculares catedrais góticas, há uma imensa combinação de imagens cristãs com animais, símbolos químicos e zodiacais.


De forma geral, pode-se definir três objetivos básicos da alquimia. O primeiro e, conseqüente- mente, mais importante é produzir a chamada Pedra Filosofal (ou mercúrio dos filósofos, entre outros diversos nomes) que seria uma substância obtida a partir de matéria-prima grosseira. Através da Pedra Filosofal seria possível atingir os outros objetivos, que seria a transmutação da matéria (metais inferiores transformados em ouro) e produzir o Elixir da longa vida, uma espécie de medicamento universal que tornaria a pessoa que fizesse uso, imune a qualquer doença. Os sábios alquimistas ocidentais afirmavam que a obtenção de ouro foi um fracasso pela falta de concen- tração e preparação espirituais dos que realizavam as experiências.


Ainda, entre os alquimistas, há uma idéia de criar vida humana de modo artificial. O homúnculo(do latim, homunculus, pequeno homem) seria uma criatura de aproximadamente 12 polegadas de altura que poderia ser criada através de sêmen humano colocado em uma retorta totalmente fechada e aquecida em esterco de cavalo durante 40 dias. Assim se formaria um embrião. Possivelmente, Paracelso foi o primeiro alquimista a divulgar este conceito.


Porém, é provável que a verdadeira intenção dos alquimistas era promover uma profunda mutação na alma e na natureza humana. Este objetivo fica camuflado sobre fórmulas químicas e simbologias complexas.




A alquimia na história



Na China, a prática da alquimia estaria associada ao Taoísmo, que é o ensinamento filosófico-religioso chinês. Além da associação à filosofia védica, na Índia, por volta do ano 1000 a.C., que apresenta semelhanças com alguns fundamentos alquímicos. No Egito antigo, era considerada obra do deus Thoth (divindade associada à Hermes Trismegistus. Ainda no Egito, na cidade de Alexandria, a alquimia recebeu influência da filosofia neoplatônica, que se baseia no conceito de que a matéria, apesar de múltiplas aparências, é formada por uma substância única. Esta seria a justificativa para a transmutação almejada pelos alquimistas através da fusão dos quatro elementos fundamentais da Antigüidade: fogo, ar, água e terra.


De qualquer forma, a alquimia floresceu realmente a partir de meados do século VII, quando os povos árabes invadiram o Egito. Assim, o acervo de escritos alquímicos foram traduzidos para os idiomas árabes e sírio. Aproximadamente 300 anos depois, em meados do século X, os mulçumanos introduziram a alquimia no continente europeu, mais precisamente, através da península ibérica, na Espanha.


No século XIII, o conceito de quatro elementos primitivos e geradores da natureza (água, fogo, terra e ar), foi substituído pela idéia de que havia apenas três elementos básicos: mercúrio, enxofre e sal. O alquimista árabe Abu Musa Jabir ibn Hayyan al Sufi (conhecido como Geber) concluiu que os metais eram gerados no interior da Terra e compostos de mercúrio e enxofre. Acreditava-se que ouro e prata eram compostos de mercúrio e enxofre em sua forma pura. Enquanto os outros metais eram formados com enxofre impuro. Dessa forma, concluiu-se que, se através de um processo adequado, fosse possível "purificar" o enxofre, este poderia facilmente ser transmutado em ouro.


No ano de 1525, surgiu uma espécie de "escola de químicos" fundada por Paracelso. A Iatroquímicos(iatros, do grego, médico) tinha como objetivo principal encontrar um meio de que a humanidade se tornasse totalmente imune às doenças naturais. Porém esta causa poderia também ocultar a intenção de encontrar o chamado Elixir da longa vida. Foi também entre Paracelso e os iatroquímicos que surgiu o conceito de quintessência, que neste caso, seria equivalente ao "elemento divino".


Entre os alquimistas mais célebres da história, destacam-se Tomás de Aquino, Paracelso, Nostradamus, Nicolas Flamel e Francis Bacon. Além do lendário Conde de Saint Germain, que teria encontrado a Pedra Filosofal e o Elixir da longa vida.


A alquimia medieval é a responsável pelas bases da química moderna. Além disso, os alquimistas contribuíram imensamente com a medicina contemporânea e deixaram como legado de alguns procedimentos que são utilizados até hoje, como o "banho-maria" (em alusão à alquimista conhecida como Maria, a Judia). Porém, a maior influência da alquimia encontra-se nas ciências ocultas ocidentais agindo diretamente na sabedoria e natureza humana.


Por Spectrum
Agradecimentos à Kimberlly Almeida



A Grande Obra


A primeira tarefa do discípulo consiste na busca da Matéria-Prima. O seu nome tradicional,Pedra dos Filósofos, nos dá uma idéia bastante clara desta substância, servindo-nos para começar a identificá-la. É realmente uma pedra porque ao ser extraída das minas apresenta as mesmas características exteriores que o resto dos minerais. Esta Pedra dos Filósofos, ou sujeito desta arte, não deve ser confundida com a Pedra Filosofal. Dito sujeito unicamente se converte na Pedra Filosofal quando, após ser transformada e aperfeiçoada pela arte, alcança a sua perfeição final e por conseguinte a propriedade da transformação.




Na literatura alquímica, diz-se que a Matéria-Prima tem um corpo imperfeito, uma alma constante e uma cor penetrante, e que contem um mercúrio claro, transparente e volátil. Esconde no seu coração o ouro dos filósofos e mercúrio dos sábios. Recebeu uma multidão de nomes, mas nunca nenhum alquimista revelou publicamente a sua verdadeira natureza. Uma das maiores dificuldades que apresenta a alquimia, consiste em identificar esta matéria. Nos textos alquímicos quase sempre se omite de forma completamente enganosa.


A Obra é preparada e levada a cabo utilizando esta única substância que, após ser identificada, deve ser obtida. Para isso é essencial viajar até o lugar da mina e obter o sujeito no seu estado bruto. Isto em si já é uma tarefa árdua, e é necessário fazer um horóscopo para determinar qual é o momento mais propício. A Obra deve ser realizada na primavera do hemisfério Norte, sob os signos de Áries, Touro ou Gêmeos (a época mais propícia para começar é a de Áries, cujo o símbolo celeste corresponde, a linguagem esotérica ou crítica, ao nome da Matéria-Prima).


Como preliminar à Obra, o sujeito deve ser purificado, libertado dos detritos. Isto se realiza utilizando umas técnicas bem conhecidas pelos metalúrgicos; diz-se, no entanto, que ditas técnicas requerem muita paciência, e esforço.


Outra operação consiste na preparação do fogo secreto, Ignis Innaturalis, também denominado fogo natural. Os alquimistas definem este fogo secreto ouPrimeiro Agente, como água seca que não molha as mãos e como o fogo que arde sem chamas. Este é um tema que deu origem a incontáveis equívocos e confusões. Pontanus, reconhece ter equivocado neste ponto mais de duzentas vezes. Realmente, essa substância é o sal, preparado a partir de cremor tártaro mediante um processo que requer perícia e um perfeito conhecimento da química. O processo inclui a utilização do orvalho primaveril, que se recolhe de uma forma engenhosa e poética e que a continuação é destilado.


Quando já estão preparados, a Matéria-Prima e o Primeiro Agente da Obra, os preliminares se dão praticamente por finalizados. A Matéria-Prima é introduzida num morteiro de ágata (ou de alguma outra substância de grande dureza), é amassada com o maço, misturado com o fogo secreto e umedecida com orvalho. A mistura resultante é introduzida a continuação num recipiente hermeticamente fechado ou Ovo Filosofal, que se coloca no interior do forno deAtenor, o forno dos Filósofos.


Este Atenor está desenhado de tal forma que o ovo pode se manter a uma temperatura constante durante longos períodos de tempo. O fogo exterior estimula a ação do fogo interior, razão pela qual deve ser controlado; em caso contrário, embora o recipiente não se rompa, todo o trabalho se estragará. Durante essa etapa inicial, o calor do nascimento dos pintinhos tem muitos pontos em comum com o processo alquímico.


Dentro do ovo, os dois princípios contidos na Matéria-Prima - um solar, quente e masculino, conhecido como enxofre, e o outro lunar, frio e feminino, conhecido como mercúrio- atuam um sobre o outro.


Então, estes dois que Avicena chama a cadela Corascene e o cão armênio - escreveNicolas Flamel - estes dois, digo, ao colocá-los juntos no recipiente do sepulcro, se mordem de uma forma cruel e pelo seu forte veneno e terrível ira nunca se soltam a partir do momento em que se agarram (se o frio não o impede) até que os dois, como conseqüência das suas babas venenosas e dos seus ataques mortais, terminam completamente ensangüentados e acabam matando-se e cozinhando-se no seu próprio veneno que, depois da sua morte, os converte em formas naturais e primitivas, para passar depois assumir uma forma nova, mais nobre e melhor. Desta forma, à morte - que é uma separação - lhe segue um longo processo de decadência que dura até que tudo apodrece e os contrários se dissolvem no nigredo líquido. Esta escuridão que supera todas as outras escuridões, este "negrume entre os negrumes" é o primeiro signo inequívoco que se está no bom caminho; daí o aforismo dos alquimistas: "Não há geração sem corrupção".


A etapa de negrume acaba quando a superfície do mercúrio voa pelo ar alquímico dentro do microcosmo do Ovo Filosofal, no ventre do vento, recebendo as influências celestinas e purificadoras de cima. Volta a cair, sublimado, sobre a Nova Terra que finalmente emerge. Ao ir aumentando muito lentamente a intensidade do fogo exterior, as partes secas vão ganhando terreno sobre as úmidas, até que o continente aparecido se coagula e se desseca completamente. Enquanto isto sucede, aparece um incontável número de belas cores que correspondem à etapa conhecida como Causa do Pavão Real.


No final do segundo trabalho, aparece a Brancura, o albedo. Quando se alcança a Brancura, diz-se que o sujeito já tem força suficiente para resistir ao calor do fogo e só tem que dar um passo mais para que o Rei Vermelho ou Enxofre dos Sábios, saia do ventre da sua mãe e irmã, Ísis ou o mercúrio, Rosa Alva, a Rosa Branca.


No terceiro trabalho se recapitulam as operações do primeiro, que adquirem agora um novo significado. Começa com pompa de uma boda real. O Rei se reúne no Fogo do Amor (o sal ou fogo secreto) com a Rainha bendita. Como Cadmo atravessou a serpente com a sua lança, o enxofre vermelho fixa o mercúrio branco; e com esta união se consegue a perfeição final, nascendo a Pedra Filosofal.


Resumindo brevemente: 

Dentro da Obra existem três pedras ou três trabalhos ou três graus de perfeição. 

O primeiro trabalho termina quando o sujeito está completamente purificado (mediante sucessivas destilações e solidificações) e reduzindo a uma

substância mercúrica pura. 

O segundo grau da perfeição se alcança quando dito sujeito foi cozido, digerido e fixado, convertido-se no enxofre incombustível. 

A terceira pedra aparece quando o sujeito foi fermentado, se multiplicou e alcançou a Perfeição Final, sendo uma tintura fixa e permanente: a Pedra Filosofal. 

Autor Desconhecido


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Fontes:

Texto: http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/ciencias/alquimia.htm
Imagens: https://www.google.com.br



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Animais Mitológicos



Dez animais clássicos criados pela imaginação humana



Alguns, como dragões, sereias e o unicórnios, ainda resistem. Outros caíram no esquecimento, como o basilisco e a mantícora.

Cérbero
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Na Teogonia do poeta grego Hesíodo, Cérbero era um cão com 50 cabeças. Seria difícil equilibrá-las em um só cor- po. A tradição posterior, mais econômica, consagrou o monstro com apenas três cabeças – assim ele é referido pelos poetas latinos Ovídio e Virgílio (e assim aparece na página anterior). Ele também aparece com uma cobra no lugar do rabo, ou com uma cauda venenosa como a do escorpião. Esse cachorro horrendo era encarregado de guardar a casa de Hades, o inferno da mitologia grega. Sua maior responsabilidade era evitar que os mortos saíssem de lá. Trazê-lo à luz do dia foi um dos 12 trabalhos de Hércules (ou Heracles, em grego). O herói atracou-se com o cachorro e domou-o à unha.
Mas, quando apresentou o bicho de três cabeças ao rei Eristeu, que havia encomendado os 12 trabalhos, o monarca ficou tão apavorado que se escondeu dentro de um vaso. Hércules então devolveu Cérbero a seu dono original, Hades. Na Divina Comédia, Dante coloca Cérbero no terceiro círculo do Inferno, onde são castigados aqueles que cometeram o pecado da gula. Com suas três bocas ferozes, o monstro rasga e esfola os podres gulosos.


Unicórnio


Para se aproximar de um unicórnio, animal ligeiro e esquivo, o caçador deve trazer uma jovem virgem para o bosque em que ele habita, deixando-a sozinha, com os seios desnudos, em uma clareira. O unicórnio vem, timidamente, beijar os seios da donzela, que o aninha em seu colo. O pobre bicho acaba adormecendo e assim se deixa capturar ou matar. A lenda repete-se, com algumas variações, em vários bestiários medievais. A moral cristã é óbvia: o unicórnio é Cristo, a virgem é Maria, o caçador são os homens que levaram Jesus à cruz etc. Vale lembrar que, até então, o unicórnio não era o garboso cavalo branco que imaginamos hoje. Seria menor, com corpo de cabra. A característica que se mantém constante é, claro, o chifre único. Outros textos medievais fazem do unicórnio um inimigo do elefante ou do leão. Aliás, o unicórnio e o leão aparecem brigando em um divertido episódio de Alice Através do Espelho – Lewis Carroll usou os dois animais para aludir a disputas políticas da Inglaterra vitoriana.
Na tradição chinesa, a aparição do bicho anuncia o nascimento de um rei virtuoso. Porém, um escritor chinês anônimo do século 9 coloca em dúvida esse sinal de bom agouro, pois ninguém sabe ao certo como será esse animal: “Sabemos que tal animal com crina é um cavalo e que tal animal com cornos é um touro. Não sabemos como é o Unicórnio”. Como todos os animais desta lista, o unicórnio é um enigma da nossa imaginação.


Dragão


A cultura pop consagrou o dragão como a fera medieval por excelência. Ele aparece sempre colocando fogo pela boca para torrar o bravo cavaleiro dentro da armadura – é assim, por exemplo, que ele (aliás, no caso, ela) figura no desenho Shrek. Os textos medievais, porém, não mencionam o bafo de fogo do monstro. Um bestiário conservado em Cambridge, Inglaterra, diz até que a força do dragão não está tanto em sua mordida, mas em seu poderoso rabo! É com a cauda que ele derruba o elefante, seu inimigo natural.
Na tradição cristã ocidental, o dragão é associado ao mal – confunde-se até com a serpente que tentou Eva no Paraíso. Na mitologia chinesa, porém, ele é um ser divino, um dos quatro animais mágicos – os outros são o unicórnio, a Fênix e a tartaruga. Como se vê, o dragão aparece com diferentes características em diversas épocas e culturas. Geralmente, é um ser alado, mas também há versões terrestres. Seu corpo às vezes tende ao lagarto, às vezes à serpente – mas sempre com proporções agigantadas. Talvez por esse caráter polivalente, é um dos monstros mais populares. O escritor argentino Jorge Luis Borges observa que, de tanto figurar em contos de fada, o dragão acabou se tornando uma criatura pueril, que já não nos mete medo.



Mantícora



Cabeça de homem, corpo de leão, cauda de escorpião: assim Plínio, o Velho, descreve a mantícora, que teria ainda três fileiras de dentes e uma incrível velocidade. Sua voz combinaria os timbres da flauta e da trompa. O prato preferido desse monstro não poderia ser outro: carne humana. Os bestiários medievais modificam muito pouco essa descrição. Acrescenta-se um ou outro detalhe, como, por exemplo, olhos de cabra. Apenas a voz ganha novas inflexões: como uma espécie de sereia terrestre, a mantícora seria capaz de atrair os homens com seu canto – somente para devorá-los, é claro. Os textos antigos situam a mantícora na Índia, mas a fera foi transplantada e adaptada para o Brasil colonial: alguns viajantes mencionam o hay, fera de garras enormes e rosto simiesco, muito temida pelos índios. Ao contrário do modelo original, porém, o hay não era antropófago: alimentava-se de ar. A mantícora é um monstro terrível, mas sua lenda é um tanto pobre. Em A Tentação de Santo Antônio, Gustave Flaubert daria uma versão mais ornamental à fera. “Devoro os exércitos quando eles se aventuram nos desertos”, vangloria-se a mantícora do escritor francês.


Grifo

O Physiologus diz que o grifo é a “maior de todas as aves do céu”. Mas essa obra do século 4 não ajuda na descrição física do pássaro. Os bestiários medievais são mais ricos em detalhes: trata-se de um quadrúpede alado. Seu corpo é de leão, mas a cabeça e as asas são de águia – e também as garras enormes e curvadas com que dilacera homens e animais. São criaturas poderosas: um grifo sozinho levanta um boi e o leva para seu ninho, onde o infeliz bovino serve de papinha aos filhotes do monstro. Os grifos são inimigos jurados dos cavalos.
O significado moral do grifo varia conforme a fonte consultada. O bestiário do clérigo francês Pierre de Beauvais, do início do século 12, diz que o animal representa o diabo. O boi caçado pelo grifo seria a alma do homem devasso, e os pequenos grifinhos que picam o boi seriam os demônios que atormentam a alma pecadora por toda a eternidade. Outros textos, porém, dão ao grifo uma aparência quase divina. Isidoro de Sevilha, em suas Etimologias (século 7), compara esse animal híbrido a Jesus: “Cristo é leão porque reina e tem força; e é águia, pois, depois da ressurreição, sobe aos céus”.


Pégaso


O cavalo alado servia aos deuses do Olimpo. Mas também está associado às aventuras de Belerofonte. Foi montando Pégaso que esse herói grego deu cabo da Quimera, um monstro terrível (leão na frente, dragão atrás, e com cabeça de cobra que cuspia fogo). Nas costas de Pégaso, Belerofonte venceu as Amazonas, tribo de mulheres guerreiras. Após a morte do herói, Pégaso voltou ao Olimpo e virou uma constelação.
É sem dúvida uma das formas mais belas da mitologia. Seu nascimento, porém, está ligado à horrenda Medusa, mulher com cobras no lugar de cabelos e cujo olhar transformava as pessoas em pedra. Quando Perseu decapitou esse monstro, Pégaso brotou de seu pescoço (outra tradição diz que do sangue da Medusa teria nascido o basilisco). Em sua Teoria Estética, o filósofo alemão Theodor Adorno vale-se desse mito para argumentar que a beleza nasce do terror.


Fênix


O mito da ave Fênix nasceu da tradição egípcia, mas a partir dela foi moldado por gregos e romanos. Originalmente – ou pelo menos foi assim que narrou o grego Heródoto – a Fênix viajava da Arábia ao Egito para trazer o corpo de seu pai dentro de um ovo de mirra. Isso acontecia a cada 500 anos. Nas versões posteriores, manteve-se o caráter cíclico da viagem, mas a morte do pai desaparece. Quando sente que está envelhecendo, a ave reúne plantas aromáticas e vai para o templo do sol, no Egito. Lá, ela usa as asas para criar uma fogueira, na qual se consome. Das cinzas nasce um novo pássaro, igual ao anterior.
As descrições da ave variam, mas são sempre coloridas: fala-se que tem asas púrpuras e pescoço dourado.
O Physiologus fez da Fênix um emblema da ressurreição de Cristo, e a maioria dos bestiários medievais segue essa tradição. Sua forma de reprodução assexuada contribuiu para fazer desse prodígio pagão uma das criaturas preferidas do cristianismo.


Minotauro


“Homem metade touro, touro metade homem.” Assim foi descrito o minotauro pelo poeta latino Ovídio. Falta apenas especificar que a metade touro é a de cima – isto é, a cabeça. Nesse sentido, o minotauro é mais bestial que os elegantes centauros, cavalos com cabeça humana. No mito original, o monstro nasce da união entre Parsífae, mulher do rei Minos, e um belo touro branco enviado pelo deus Posêidon. Minos, envergonhado, manda que o engenhoso Dédalo crie um labirinto onde esconder o fruto aberrante do adultério de sua esposa. Periodicamente, sete donzelas e sete jovens de Atenas eram levados em sacrifício ao labirinto, onde Asterion – assim se chamava o minotauro – os devorava. Foi assim até que o herói Teseu ofereceu-se voluntariamente para participar do sacrifício – e matou o monstro. Essa lenda grega provavelmente guarda ecos da antiga civilização minóica, que venerava o touro em seus rituais.
Na Divina Comédia, Dante coloca o minotauro – e também os centauros – no sétimo círculo do Inferno, reservado aos temperamentos violentos. No século 20, o minotauro ganharia uma versão literária mais digna pela mão do argentino Jorge Luis Borges, no conto “A casa de Asterion”, do livro O Aleph.


Basilisco


Ele é o rei dos répteis. Plínio, o Velho, descreve-o como uma serpente com uma mancha branca em forma de diadema na cabeça – o sinal faria as vezes de coroa, já que “basilisco” quer dizer “pequeno rei”. Não se conhece veneno mais potente que o seu. O hálito do monstro não só mata tudo a seu redor, mas faz até os pássaros despencarem do céu. Por onde ele passa, a grama não torna a nascer. Plínio conta de um cavaleiro que feriu um basilisco com a lança. O veneno, porém, subiu pela lança, matando o valente cavaleiro e seu cavalo! Só não se explica como o frustrado herói teria conseguido se aproximar do monstro – pois o basilisco lança seu veneno pelo olhar, matando tudo o que vê. O único animal capaz de derrotá-lo é a doninha.
Os bestiários dariam características ainda mais bizarras ao rei dos répteis. O basilisco seria gerado de um ovo de galo velho (não, leitor, não é engano: ovo de galo, não de galinha) chocado por um sapo. Teria partes de serpente, mas crista e corpo de galo. Os perigos dessa figura um tanto ridícula não devem ser subestimados: o basilisco medieval conservava o olhar fatal que lhe atribuíam os autores antigos. O poeta espanhol Quevedo exporia a incongruência interna do mito em quatro versos: “Se está vivo quem te viu, / Toda a tua história é mentira. / Pois se não morreu te ignora, / E se morreu não o afirma”.


Sereia


O episódio mais célebre das sereias está na Odisséia de Homero. Eram criaturas do mar, cujo canto seduzia os marinheiros que acabavam por perder o rumo. Astuto, Ulisses tapa os ouvidos de sua tripulação com cera e se faz amarrar ao mastro do navio. Os remadores seguem adiante, surdos, enquanto o herói ouve, impotente, o irresistível chamado das sereias. O poema não inclui uma descrição física desses seres. Nós, leitores modernos, tendemos a imaginá-los como belas mulheres com rabo de peixe – princesinhas submarinas, mais ou menos nos moldes de A Pequena Sereia, desenho dos estúdios Disney. Na Antiguidade, porém, a sereia não perdia em monstruosidade para o minotauro. Originalmente, não tinha rabo de peixe: era metade mulher, metade pássaro. É lá pelo século 6 que surge a versão da mulher-peixe. Alguns bestiários medievais apresentam a sereia em três versões – como um híbrido de mulher com peixe, ave ou cavalo. A mulher-peixe canta; a mulher-cavalo toca trompa; a mulher-ave dedilha uma harpa. Seja qual for o instrumento, a música tem sempre a finalidade de fazer o homem adormecer, para que a sereia possa matá-lo. O folclore brasileiro abriga uma espécie de sereia de água doce – a Iara.
Uma das versões literárias mais enigmáticas deste velho mito é “O silêncio das sereias”, conto do checo Franz Kafka. “As sereias têm uma arma mais terrível do que o canto: o seu silêncio.”

Para saber mais:

Na livraria
Bestiario Medieval, Ignácio Malaxecheverría (org.), Espanha, Siruela, 1999
Dicionário de Mitos Literários, Pierre Brunel (org.), José Olympio/UNB, 1998
O Livro dos Seres Imaginários, Jorge Luis Borges, Globo, 2000
Natural History – A Selection, Pliny the Elder (Plínio, o Velho), Reino Unido, Penguin Books, 1991

Na internet
www.abdn.ac.uk/bestiary/bestiary.hti
www.hum.au.dk/romansk/borges/vakalo/zf/Default.htm

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Fontes: 
Texto: http://super.abril.com.br/ciencia/dez-animais-classicos-criados-pela-imaginacao-humana
Imagens: www.google.com.br